15.7.08

ESTADO DE SÍTIO
FOLHA DA REGIÃO - 18-07-2008
Até quando os interesses políticos de grupos inescrupulosos estarão acima da ética, da razão e dos direitos sociais ou particulares da nação? Está provado que a segurança pública, no Estado do Rio de Janeiro há muitos anos, é dirigida por monstros ambiciosos. A herança deixada pelo casal Garotinho, uma guerra não declarada, destruiu as possibilidades de seu sucessor encontrar o caminho para dotar a população da tão sonhada proteção policial.

Dirigentes governamentais cercados por lobistas, acionistas de seus mandatos, a nata do poder econômico, aqueles que não querem pagar impostos, usam a mídia servilista, enganando os eleitores e todos os habitantes, aprovando no senado a extinção da CPMF. Não basta sonegar; exterminam as leis de arrecadação dos impostos estourando o orçamento do governo, são legisladores do jeitinho brasileiro: nus, sem pudor e sem pátria.

Diz-se popularmente: “Para cada ação, uma reação”. O Daniel Dantas está em casa.

Assim como os figurões endinheirados são inatingíveis pela lei, dominam setores do judiciário, imagine a ação do policial nas atribuições de sua especialidade. Num lapso de memória, o militar sentindo-se superior, faz justiça. E faz, segundo ele, o que o juiz não pode fazer. E não pode por tratar-se de “empresário”. Enquanto o soldado faz o que pode, lidando com a insignificância humana: pequenos infratores assaltantes de semáforos, ladrões de galinhas, onde não apenas algemas são usadas, mas sai porrada pra todo lado, o infrator apanha mais que professor grevista. O juiz lá de cima, acha normal, não vê, porém algemar um banqueiro sonegador é abuso de poder.

Matar pés de chinelo na periferia com o apoio ingênuo daquela população, que passa a ser vítima de bala perdida no fogo cruzado, é a contradição vivida pelo soldado jovem, comandado por um oficial inexperiente, numa guerra sem identidade, onde ninguém sabe quem é quem. Não é diferente da vida dos soldados experientes da Polícia Militar. O medo de ambos é o mesmo. Não se trata de treinamento, mas de vocação que é o salário do policial honesto. Falta qualidade técnica aos instrutores (com cargo de confiança?).

O exército brasileiro em parceria com a ONU já operou, em vários países, em áreas urbanas protegendo a ordem social como atualmente no Haiti. O momento é propício para as nossas forças armadas apoiadas pela ONU, sitiar o Estado do Rio, ou isso mancharia o brilho eleitoral de algumas estrelas políticas? O governo em coletiva diz: ”A culpa é do policial”!
A seguir o grito histérico do governador carioca: “Expulsa!... Expulsa!

O povo quer saber: “Quantas mortes serão necessárias por um pouco de paz?”.
2229 - Ventura Picasso - 09072008



SONHO IMPOSSÍVEL
Folha da Região 05072008
Certa vez fui rotulado de ‘plagiador de títulos’. Tratava-se do titulo de uma crônica crítica, uma denúncia. Hoje quero assumir essa qualidade de plagiador. Foi num sonho que tudo aconteceu, um ‘sonho impossível’: Essa agitação dos pré-candidatos a prefeitos criou, em minha imaginação, uma ansiedade que previa uma conjuntura surrealista para o próximo pleito municipal. Sonhei que era o candidato preferido do povo da cidade. Era o “já ganhou” em todas as bocas e guetos.

O financiamento de campanha, a cargo do Estado que distribuía as verbas necessárias, para cada partido. Não existiam candidatos e empresários corruptos. Estavam todos presos em penitenciárias confortáveis, equipadas com trio: telefone, TVA e banda larga. O espanhol da telefônica dividia uma kitinet federal com o carioca Fernandinho.

No meu sonho, os novos vereadores não teriam salário, seriam todos voluntários. Foram suspensos e proibidos todos os cargos de confiança, e a partir desta eleição, só funcionários concursados seriam contratados. As associações de amigos dos bairros seriam administradas por um comitê comunitário. Militante político não poderia pertencer à diretoria ou exercer qualquer função nos clubes esportivos, principalmente no futebol, nas comunicações em rádio, TV e jornais, assim como, nas organizações religiosas. Funcionário público não teria licença remunerada de 90 dias para se dedicar à campanha política.

Mas, a uma determinada altura, o sonho começou a se transformar em pesadelo. Lá pelas tantas, rompendo a madrugada, com esse frio o colchão deforma o meu corpo, saí do buraco e me acomodei. Na penumbra o silêncio é companheiro dos répteis peçonhentos que não emitem sons. Iluminando o ambiente, o clarão do amanhecer passa pelas frestas da veneziana, registrando no quarto a presença de uma cascavel.

Aqui na província nas campanhas eleitorais, como animais, as cartas anônimas cassam suas vítimas. Com certeza, estava a caminho uma denuncia pessoal e escabrosa, contra mim. Não foi por carta. No meu sonho, o aviso veio em forma de serpente, mas não como a de Adão e Eva. Era, pois, uma cascavel para impedir a mordida na maçã. Isso mesmo, depois de vinte anos de namoro, aparece essa cobra e aconselha minha namorada a trocar de noivo garantindo ainda, que lhe conseguiria coisa melhor, e disse:
─ Você já imaginou o que pode acontecer, após o seu casamento, se esse ateu vencer as eleições?
Lá fora, alguém preparava uma fogueira. O ofídio, cão da inquisição, estava a fim de queimar meu pé. Que ‘sonho impossível’! Acordei com cheiro de queimado. Ufa! Eleições? Nunca mais!

2201 – Ventura Picasso – 02072008