19.12.06


Contos mínimos – 3

Começava escurecer e Bernardo dirigia o Doddge Charger; ao seu lado viajava Jacó. Na praça central, deparou-se com uma matilha de cães impedindo o transito. Para quem estava morrendo de sede, cansado e louco para encontrar uma choperia, um transtorno. O pivô da concentração era uma cadelinha no cio. O chefe saltou do carro e aos gritos, exige a dispersão canina, mas a natureza fala mais alto. Nenhum cãozinho deu a mínima ao bronco moralista.

Na calçada, uma balzaquiana loira tipo Ana Braga, divertia-se com o incidente. Jacózinho de olho na mulher refletia: “sou raquítico, baixinho e ajudante de ordens de um galã disputado por todas as alas femininas que conheço, não tenho chance”. Fez um aceno à loura que retribuiu. Bernardo percebendo, ordenou que o ajudante marcasse um ponto com ela. Foi, acertou local e hora, e seguiram ao chope.

De noitinha, chegando ao endereço da Lola, Bernardo mandou Jacó subir examinar o local e avisar a mulher que iria visitá-la. O guri subiu no hall de entrada bateu, a porta se abriu e o serviçal é puxado com força para dentro da sala. Antes que ele se manifestasse, a bela mulher lhe falou:
— Eu tenho uma caminha de campanha no dormitório da empregada, se você não se importar, a gente fica muito à vontade e seguro por um bom tempo. Jacózinho, mudo, abanou a cabeça positivamente, e entrou.

Retornando ao encontro do amo já cansado de esperar e ansioso, meio sem jeito, abrindo a porta do carro:
— oi chefe, tudo bem?
— E aí, posso subir?
— Não... Foi sem querer, mas já comi...

1290 Ventura Picasso

0 comentários: