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O professor da PUC-Rio Luiz Wernek Viana se propôs
interpretar em artigo recente o que ele denomina a difusa sensação de
mal-estar, as manifestações e os abalos que têm marcado a vida das grandes
cidades brasileiras. Como é possível compreender que tenhamos a mais
democrática das constituições de nossa historia, políticas bem sucedidas de
inclusão social e cresça entre nós uma descrença generalizada nas pessoas e nas
instituições, a distância entre governo e sociedade civil? Por que a Copa do
Mundo no país do futebol é rejeitada pela metade da população? Isto tudo revela
que vivemos uma conjuntura "esquisita”. O fator fundamental de explicação
seria a hegemonia do economicismo em nossa vida social não rompido pelos governos
do PT: a política foi subordinada à economia, o país dialoga muito com o
mercado e pouco com a sociedade. É a lógica do lucro /consumo que dá o tom de
nossa vida coletiva.
O estranho nesta hipótese explicativa é que ela
transforma o economicismo num dado conjuntural, quando ele sabe como sociólogo
que se trata de um elemento estrutural das sociedades modernas. No tipo
concreto de sociedade moderna que temos, a capitalista, a tendência de fundo à
mercantilização de todas as coisas leva a reduzir todo valor a valor de
mercado: valores familiares, amor, sexo, valores políticos já que o dinheiro
penetra em todas as relações políticas, valores culturais mesmo que esta
tendência encontre resistência em outras lógicas sociais. Isto gesta uma visão
de mundo que tem na acumulação e posse dos bens materiais o fator de decisivo
da felicidade humana. Trata-se de um valor considerado evidente e capaz de
impregnar todas as relações constitutivas da vida. Desta forma, por exemplo, a
relação ser humano x natureza é profundamente transformada assim que o sistema
por ele conduzido não tem escrúpulos em esgotar e aniquilar fisicamente todas
as forças da natureza se isto se mostrar necessário para o crescimento
econômico ilimitado agora dirigido pelas novas revoluções tecnológicas que
produziram uma situação global de desemprego e, consequentemente, nova forma de
degradação das vidas humanas.
Para o economista egípcio S. Amin, o modo de
produção capitalista constitui uma ruptura qualitativa com os sistemas que o
antecederam porque no mundo moderno a lógica mecânica da lei do valor não gere
apenas a economia, mas a totalidade do sistema social. Todas as esferas da vida
social são subordinadas à dominação da lei inflexível da acumulação do capital
que conduz as sociedades a um crescimento exponencial no quadro de uma
autonomização das leis econômicas em relação a seu enquadramento pela esfera
político-ideológica que caracterizou os sistemas anteriores ao capitalismo. Daí
a centralidade da economia na política de um estado moderno e na vida das
pessoas que terminam assumindo uma visão sensual-materialista da vida. Emergiu
na vida uma nova doença: a "compra compulsiva” no contexto de um ideal
consumista de vida que se fez agora constituinte básico da vida humana. Nesta
perspectiva o capitalismo re-significa a totalidade da experiência humana.
Manfredo Araújo de
Oliveira
Padre e filósofo. Professor na Universidade Federal
do Ceará (UFC). Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma,
Itália, e doutor em Filosofia pela Universidade Ludwig-Maximilian de Munique,
Alemanha. Assessor das Pastorais Sociais e padre da Arquidiocese de
Fortaleza. É Presidente da ADITAL
2 comentários:
A sensação paternalista que o povo brasileiro perde, com todos os olhares voltados para gastos faraônicos em detrimento de necessidades básicas desmanteladas, vejo ser a causa dessa "conjuntura esquisita" a que o povo se vê submetido goela abaixo.
Abraço.
Olá Célia - O Brasil está fazendo a maior Copa do Mundo sem ir ao FMI. Os interesses políticos para derrubar Dilma através da Copa virou um tiro no pé da oposição. Certamente o resultado do torneio não influenciará na performance eleitoral. Mas, no decorrer dos eventos da Copa, as pesquisas eleitorais, poderão apontar a vitória no primeiro turno para a presidenta. Este seria o melhor resultado para o Brasil, vencendo ou não a Copa do Mundo. Abs
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