Celso Raeder
- Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora
e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação.
1 de Março de 2018 - https://www.brasil247.com/pt/colunistas/celsoraeder/344722/O-eleitor-%C3%A9-ref%C3%A9m-do-sistema.htm
Um dos mais experimentados políticos do estado do Rio de Janeiro me
convidou para um café, e fez o seguinte desafio: aposto uma caixa de whisky18
anos, contra uma lata de cerveja sua, como as eleições desse ano serão as de
menor índice de renovação. Minha cabeça ferveu! Eu só pensava onde colocar
aquela coleção de garrafas, quando meus devaneios foram interrompidos pela
seguinte pergunte: Diga cinco nomes novos que disputarão as eleições para
deputado estadual e federal? Travei na hora. Por mais que me esforçasse, não
encontrei um único candidato que simbolizasse as transformações desejadas pela
sociedade para o parlamento brasileiro, e concluí: Eleições no Brasil não vão
além de um rodízio de raposas.
Isso explica, por exemplo, a existência de uma franquia Bolsonaro na
vida pública brasileira. O carreirismo político-hereditário, que criam
verdadeiras reservas de mercado para sobrenomes como Sarney, Lobão, Calheiros,
Neves, existe em função do controle a mão de ferro dos partidos políticos que
comandam. São eles que encabeçam as nominatas e recebem a maior parte do
dinheiro destinado às campanhas. Se dizem puxadores de legenda, mas na verdade
não passam de batedores de carteira dos votos alheios, que acabam
contabilizados em favor da casta, através da manobra imoral de transferência de
votos pelo coeficiente eleitoral.
Dessa maneira não há renovação possível. O candidato de primeira viagem
a deputado estadual pelo MDB do Ceará, por exemplo, vai receber pilhas de
santinhos com sua foto e número, tendo a companhia na cédula do candidato a
deputado federal Rodrigo Oliveira, filho do senador Eunício Oliveira, vulgo
"o Índio", como é conhecido em delações da Lava Jato. Em outras
palavras, quando os partidos políticos abrem as portas para novas filiações,
estão em busca tão somente de cabos eleitorais para a elite que comanda estas
legendas.
Além da engenharia de bloqueio que desequilibra o jogo político dentro
dos partidos, existem outros obstáculos que impedem a renovação na composição
das casas legislativas estaduais e federais. O principal deles é o dinheiro.
Até agora ninguém perguntou para que serve o tal dinheiro de Caixa 2 eleitoral,
desculpa de 10 entre 10 políticos enredados em escândalos de corrupção. Pois eu
digo: essa montanha de dinheiro é usada para comprar votos. Se hoje o dinheiro
não vai mais para as mãos do eleitor, ele serve para comprar apoios de
lideranças comunitárias, pastores, milicianos, traficantes, qualquer um que
tenha ascendência sobre um número significativo de votos.
E se não bastasse tudo isso, a História do Brasil vem colecionando casos
de reputações destruídas pelo Ministério Público, pulverizando lideranças
políticas emergentes e desvinculadas do status quo da bandalheira nacional.
Pergunte para o ex-prefeito de Jarinu, Vanderlei Gerez Rodrigues, de que
adiantou o Tribunal de Justiça de São Paulo inocenta-lo das acusações de
improbidade administrativa, depois de ter sido objeto de todo tipo de ofensa e
acusações que contaminaram a opinião pública local e destruíram sua carreira
política?
O Google revela que casos assim estão ocorrendo às centenas. Longe de
questionar a importância da instituição quanto à necessidade de fiscalizar a
gestão da coisa pública, creio se fazer necessário algum tipo de controle
externo para combater os excessos que estão sendo cometidos em todo o país. Uma
denúncia irresponsável, com a ressonância da imprensa, é uma condenação moral
definitiva que o Judiciário não consegue reparar.
Foi o que ocorreu em Campinas, quando o Ministério Público
"pautou" a imprensa local com uma série de denúncias que nunca foram
comprovadas. O promotor responsável pelo caso Sanasa, que supostamente envolvia
a esposa do então prefeito num esquema de contratos superfaturados, fez a
alegria da mídia local, com suas suspeitas nunca comprovadas. Primeiro disse
que havia um poço numa propriedade do prefeito, cheio de dinheiro. Jornalistas
correram para o local e não encontraram nem o poço e nem o dinheiro. Aí surge
com uma história fantasiosa da existência de um shopping em Miami, que seria de
propriedade da família do Dr. Hélio de Oliveira Santos. Mais manchetes
escandalosas e mais uma mentira. Aí surge a denúncia de que um sítio da família
tinha CNPJ, o que configuraria subterfúgio para lavar dinheiro, ignorando que
qualquer propriedade rural precisa, obrigatoriamente, ter um registro no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas. E do tal caso Sanasa, que até hoje o
Ministério Público não chegou a uma conclusão sobre o montante supostamente
desviado, restaram muitas respostas e a destruição da carreira de um político
que contava mais de 86% de aprovação como prefeito de Campinas.
Foi por tudo isso que desisti da aposta. Não sou mesmo apreciador de
whisky e vou aproveitar minha última latinha de cerveja que tem na geladeira.
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