qua, 10/09/2014 - 11:52 - Atualizado em 10/09/2014
- 13:37 - http://jornalggn.com.br/luisnassif/
Daqui a pouco o Ministro Ricardo Lewandowski
assumirá a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal). Para sua posse,
estima-se um público recorde; e um respeito recorde pela sua pessoa. Os jornais
o tem tratado com deferência surpreendente, entre seus pares há uma sucessão de
elogios e um sentimento de alívio, pela volta da presidência do STF aos trilhos
do bom senso e da fidalguia.
São dois tempos distintos: o da repercussão inédita
do julgamento da AP 470 e os novos tempos, pós Joaquim Barbosa. Parece que tudo
mudou. Ministros boquirrotos retornaram à discrição, o espírito alucinado de
linchamento esgotou-se, aposentou-se o Torquemada do Supremo.
Apenas o discreto Lewandoski não mudou. É o
mesmo agora e dos tempos de tempestade, quando se viu no meio de um
turbilhão inédito, atacado por uma turba de linchadores alimentada pela mídia,
uma atoarda tão selvagem que intimidou a todos.
De um lado a turba sendo insuflada por colunistas
alucinados, com os jornais cooptando advogados oportunistas, oferecendo-lhes
visibilidade, utilizando todas as armas, do desrespeito amplo aos
Ministros que não se enquadravam às suas ordens, à lisonja mais abjeta àqueles
que se curvavam à sua orientação, querendo submeter tudo ao seu poder
avassalador.
Valeram-se de todos os recursos. Os que se
enquadravam no jogo - como Celso de Mello, na primeira fase - eram premiados
com holofotes e promessas de entrar para a história. Tolo!, julgando que o
passaporte para a história estaria na manchete vã de um jornal ou na capa de
uma revista escatológica. Os que não se enquadravam - como Celso de Mello na
segunda fase - punidos com capas e manchetes desabonadoras.
Quase todos vacilaram, cederam, calaram-se.
Procuradores, desembargadores, Ministros, advogados assistiam à explosão da
selvageria, ao atropelo dos princípios básicos da sua profissão, dos seus
valores, e nada faziam. Alguns até se indignavam nos ambientes restritos, mas
nenhum ousou insurgir-se contra o clamor dos bárbaros.
A Justiça ficou indefesa, sendo estuprada em
público por vândalos de toda espécie.
Nesse vendaval de baixarias, sobressaiu a figura
extraordinária de Lewandowski, não cedendo, não se rebaixando mesmo sendo
ofendido em público, em aeroportos, nas ruas, sendo atacado por reportagens da
infame revista Veja.
Não tinha o perfil dos heróis ou vilões que a mídia
traça para seus personagens, o bufão explosivo, o vingador de capa preta, o
vilão a ser destruído. Tinha o ar tranquilo de lente dos velhos tempos,
educado, cerimonioso.
Os estúpidos julgavam que a coragem está no grito,
na bazófia. Não entendiam que os verdadeiramente corajosos são os mansos, que
se escudam em princípios e na força interna.
Lewandowski foi o único que resistiu. Agarrou-se à
sua bóia emocional - a família -, mas não esmoreceu. Enquanto alguns dos seus
pares esbaldavam-se em banhos de sol públicos sob os refletores da mídia, em um
deslumbramento incompatível com a idade e com o cargo, Lewandowski não abriu
mão de seu direito de julgar de acordo com sua consciência. Enfrentou as vaias,
o deboche, as insinuações. E não cedeu.
Naqueles tempos bicudos, a cara do Supremo
tornou-se a de Gilmar Mendes, de Luiz Fux, de Joaquim Barbosa, o último pelo
menos tendo o álibi de uma obsessão não oportunista.
Nem se pense que, no julgamento da AP 470,
Lewandowski foi benevolente para com os acusados. Condenou quando julgou que
devia condenar e acatou atenuantes, quando sua consciência assim
recomendou. Acima de tudo, defendeu a dignidade da Justiça.
Agora, assume a presidência do Supremo sob
aprovação geral.
Varre-se para baixo do tapete, guarda-se no baú da
vergonha nacional - e lacra-se para que seu fedor não se espalhe - o massacre a
que foi submetido nesses tempos de obscurantismo.
Dia desses, seu colega Luís Roberto Barroso
proferiu uma aula sobre a mídia, no Tribunal de Justiça de São Paulo. Abordou
temas diversos de privacidade, a atriz flagrada na praia, o ator que teve a
vida devassada e outras banalidades da indústria do entretenimento. Passou ao
largo do episódio Lewandowski.
O tabu continua. Mas a opinião pública sabe que, na
presidência do STF, agora, existe um Ministro que não se curva ao clamor das
ruas e às capas das revistas.
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