25/09/2014 http://amoralnato.blogspot.com.br/2014/09/jus-esperneandis.html
O discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura
da Assembleia-Geral das Nações Unidas conteve verdades óbvias, mas
inconvenientes; diante dos líderes mundiais, ela teve a coragem de dizer que
mais violência, como os bombardeios aos países onde se escondem militantes do
Estado Islâmico, irá gerar mais violência; "O uso da força é incapaz
de eliminar as causas profundas dos conflitos. Isso está claro na
persistência da Questão Palestina, no massacre sistemático do
povo sírio, na trágica desestruturação nacional do Iraque", disse ela; no
entanto, para a mídia brasileira, com destaque para o Globo, Dilma foi quase
confundida com uma militante jihadista disposta a decapitar cabeças; segundo
Merval Pereira, discurso de Dilma produziu nele o sentimento de "vergonha
alheia"; o que dizer então do Globo?
247 - Há tempos um
discurso presidencial não irritava tanto a direita brasileira, como aconteceu
nesta quarta-feira. Em Nova York, ao abrir a Assembleia-Geral das Nações
Unidas, a presidente Dilma Rousseff teve coragem para enfrentar um tema
sensível, no momento em que países do Ocidente, tendo os Estados Unidos à
frente, lideram uma nova ação militar contra países como Síria e Iraque, onde
se escondem militantes do Estado Islâmico. De acordo com a presidente Dilma,
uma nova onda de violência, que não enfrente a raiz dos problemas, irá apenas
gerar uma escalada ainda maior de violência.
Eis o que disse a presidente Dilma sobre a questão:
Não temos sido capazes de resolver velhos
contenciosos nem de impedir novas ameaças. O uso da
força é incapaz de eliminar as causas profundas dos
conflitos. Isso está claro na persistência da Questão
Palestina; no massacre sistemático do povo sírio; na
trágica desestruturação nacional do Iraque; na grave insegurança na
Líbia; nos conflitos no Sahel e nos embates na Ucrânia. A
cada intervenção militar não caminhamos para a Paz mas, sim, assistimos ao
acirramento desses conflitos. Verifica-se uma trágica multiplicação
do número de vítimas civis e de dramas humanitários. Não
podemos aceitar que essas manifestações de
barbárie recrudesçam, ferindo nossos valores éticos,
morais e civilizatórios. O Conselho de
Segurança tem encontrado dificuldade em promover a solução
pacífica desses conflitos. Para vencer esses impasses será necessária
uma verdadeira reforma do Conselho de Segurança, processo que se arrasta
há muito tempo. (...) Um Conselho mais representativo emais
legítimo poderá ser também mais eficaz. Gostaria
de reiterar que não podemos permanecer indiferentes à crise
israelo-palestina, sobretudo depois dos dramáticos acontecimentos na Faixa
de Gaza. Condenamos o uso desproporcional da força, vitimando fortemente a
população civil, especialmente mulheres e crianças. Esse conflito deve ser
solucionado e não precariamente administrado, como vem sendo.
Negociações efetivas entre as partes têm de conduzir à solução de dois
Estados – Palestina e Israel – vivendo lado a lado e em segurança, dentro de
fronteiras internacionalmente reconhecidas.
O que há de errado nesse argumento? Será que a
"Guerra ao Terror" promovida pelos Estados Unidos no Iraque realmente
semeou a paz? Será que a intervenção ocidental em países como Egito e Líbia deu
origem a países estáveis? Será que a carnificina recente promovida por Israel
na Faixa de Gaza, com o assassinato impune de 2,2 mil inocentes, liderado por
Benjamin Netanyahu, plantou o amor no coração dos palestinos?
Dilma disse o óbvio. A escalada da violência irá
produzir, apenas, mais violência.
No entanto, para a imprensa brasileira, com
destaque para o jornal O Globo, a presidente Dilma foi tratada quase como uma
militante jihadista do Estado Islâmico, pronta para decapitar cabeças.
Na capa, duas chamadas para seus
"autoelogios", como se o discurso fosse uma peça de campanha
política, e para o fato de ela não se opor "à atuação contra o Estado
Islâmico". A imagem principal, de um Barack Obama focado, também já denota
o alinhamento ideológico da família Marinho.
Internamente, o editorial "Palanque em Nova
York" acusou a presidente de usar o "vestido vermelho PT" na ONU
e de se colocar ao lado de "sectários muçulmanos, que adotam costumes
medievais". Na coluna "Uso indevido", Merval Pereira disse ter
sentido "vergonha alheia" pelo discurso de Dilma. Por fim, houve
espaço para um artigo do embaixador Luiz Felipe Lampreia, que foi embaixador no
governo FHC, afirmando que, com discursos como o de ontem, o Brasil fica cada
vez mais distante de tornar-se membro do Conselho de Segurança das Nações
Unidas.
O fato é que, no entanto, enquanto esteve alinhado
aos Estados Unidos, o Brasil jamais teve suas pretensões diplomáticas levadas a
sério.
Postado há 2
days ago por René Amaral
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