Jornalistas se
unem contra uma decisão que responsabiliza Alex Silveira por ter sido alvejado
Ele trabalhava
em um protesto e ficou cego de um dos olhos
Talita
Bedinelli São Paulo 11
SEP 2014 - 17:36 BRT - http://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/11/politica/1410467776_835257.html
Fotógrafos e repórteres de São Paulo vão cobrir um
de seus olhos durante um dia de trabalho, em protesto contra a decisão da Justiça paulista
de ter culpado o fotógrafo Alex Silveira por ter perdido a própria visão ao ser
atingido por uma bala de borracha lançada pela Polícia Militar em um protesto.
Na época, Silveira trabalhava para o jornal “Agora”,
do Grupo Folha. Ele foi atingido enquanto fotografava um ato de servidores da
saúde e da educação na avenida Paulista que acabou em um confronto entre os
cerca de 15.000 manifestantes e a tropa de Choque da Polícia Militar, que usou
balas de borracha, gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral contra a multidão.
Cerca de 20 pessoas acabaram feridas, entre elas Alex, atingido no olho
direito, o que provocou uma hemorragia e o descolamento de sua retina e o fez
perder 80% da visão.
Silveira
processou o Estado e pediu uma indenização por danos materiais e morais. Uma
sentença havia condenado a Secretaria da Fazenda a pagar todos os gastos
médicos, além de cem salários mínimos, mas o Governo recorreu. Nesta semana,
uma decisão da 2ª Câmara Extraordinária de Direito Público reverteu a sentença
anterior. A nova decisão afirma que “as circunstâncias em que os fatos
ocorreram não autorizam a indenização”. O texto afirma que o fotógrafo
“colocou-se em situação de risco ou perigo, quiçá inerente à sua profissão”. “O
autor colocou-se em quadro no qual se pode afirmar ser dele a culpa exclusiva
do lamentável episódio do qual foi vítima”, afirma o desembargador Vicente de
Abreu Amadei. Silveira acabou sendo condenado a pagar as despesas do processo,
fixadas em 1.200 reais.
Na última quarta-feira, fotógrafos e repórteres de
diferentes veículos de comunicação se reuniram na sede do sindicato dos
jornalistas de São Paulo e decidiram iniciar protestos para alertar sobre os
possíveis efeitos da sentença. “É uma decisão absolutamente improcedente e
muito séria porque coloca a culpa em um profissional que estava trabalhando.
Isso fere a liberdade de se estar ali, fazendo o próprio trabalho”, afirma José
Luis da Conceição, vice-presidente da Arfoc-SP, associação que reúne repórteres
fotográficos e cinematográficos. “A decisão abre um precedente muito grave, que
inibe o profissional de fazer seu trabalho”, afirma ele.
Silveira, em imagem divulgada pela Arfoc-SP. / Divulgação
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Ele diz ainda que a instituição se coloca contrária
a qualquer tipo de uso de arma em manifestações e destaca que durante a série
de protestos iniciada em junho do ano passado vários outros profissionais
acabaram feridos. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (Abraji), mais de cem jornalistas foram atingidos enquanto
cobriam os atos, a maioria por agressões policiais. Entre eles, o fotógrafo
Sérgio Silva, que também ficou cego ao ser atingido por uma bala de borracha, e
a jornalista da TV Folha Giuliana Vallone,
também atingida no olho por uma bala de borracha lançada propositalmente por um
policial - ela estava identificada como repórter.
A data dos protestos dos jornalistas será decidida
na próxima segunda. Mas muitos profissionais já começaram a divulgar imagens em
que aparecem com um dos olhos tapados por um tapa-olho.
Em carta divulgada pela Arfoc-SP,
Silveira afirma: "Permanecendo este parecer ridículo, todos nós estaremos
em um grande perigo de uma nova ditadura, mas agora velada de interesses
mesquinhos e danosos, e dando para os agentes do Estado um salvo-conduto".
E continua: "Acredito que essa causa é maior do que todos nós. Perdemos a
nossa individualidade e nos tornamos um só repórter, essa luta agora é de todos
nós".
2 comentários:
Quantas mentes pequenas, inumanas, que se "acham" no direito de julgar e determinar sentenças... quando "a pimenta... arde no do outro..." é muito confortável, não acha?
Abraço.
Célia, a violência institucional é a mesma iniciada em 1964. Atiradores especialistas, hoje e assim como no passado, buscam alvos influentes entre a multidão. A impunidade sempre foi garantida pelo Estado. A sociedade merece a urgente Reforma do Judiciário. Chega de dar liberdade a criminosos com endereço fixo e não algemar figurões endinheirados. Grande abraço, Célia.
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