A brasileira Karina Biondi, professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), venceu o prêmio de melhor livro de 2017 da Associação para a Antropologia Política e Jurídica (APLA na sigla em inglês);
Karina Biondi
está se sentindo agradecida.
16 de fevereiro
às 01:22 · São Luís,
Maranhão · https://www.facebook.com/karina.biondi.3/posts/1534583959993160
E não é que meu discurso de agradecimento foi
publicado no site da APLA/AAA? Disseram que gostaram muito da fala e que ela
merecia ser publicada separadamente para ser lida por todos os membros da APLA.
Democratizando o acesso ao que eu quis dizer, segue
a versão do texto em português:
"Boa tarde! Em primeiro lugar, gostaria de
pedir desculpas por não poder estar presente nesta reunião para receber o prêmio
pessoalmente. A despeito de minha ausência, vocês não imaginam a felicidade que
estou sentindo.
Eu não
chegaria sozinha aqui. Por outro lado, é impossível listar todas as pessoas que
cooperaram para que o livro se tornasse uma realidade. Gostaria, contudo, de
expressar meus mais profundos agradecimentos ao Professor John Collins, que
além de tradutor do livro foi grande incentivador e o maior responsável pela
sua realização Agradeço igualmente à editora UNC Press e aos colegas que
subscreveram cartas de recomendação para a tradução do livro: Professores
Magnus Course, Desmond Arias, e Sean Mitchell. Finalmente, não posso deixar de
agradecer ao professor Jorge Villela, que além de ter sido meu orientador e
parceiro de reflexões, me imaginou onde eu mesma nunca havia me imaginado. Foi
ele, inclusive, quem apresentou o livro ao Prof. Collins.
Este prêmio representa o reconhecimento não só dos
anos de trabalho, esforço, sacrifício e dedicação. Ele diz muito mais. O fato
desse prêmio ser entregue a uma brasileira, mulher e jovem pesquisadora mostra
o sucesso de algumas políticas, tanto de políticas acadêmicas quanto de
políticas de Estado. Isso é fruto de um investimento que vem sendo feito há
muitos anos e de forma bastante intensa por muitos pesquisadores que lutam não
só contra as heranças do colonialismo quanto contra práticas colonialistas que,
por sua vez, não estão restritas a países do hemisfério norte. Encontramos no
Brasil, por exemplo, posturas do tipo colonialistas, que dividem o mundo em
dois tipos de lugares: aqueles onde se realiza a pesquisa de campo e os outros,
privilegiados, onde se faz antropologia. Isso é replicado para o campo da
política Estatal, que até há pouco mais de uma década promovia a concentração
da produção acadêmica em poucos centros de pesquisa.
Se essa política ainda operasse, provavelmente eu
não estaria aqui. Foi a expansão do ensino e pesquisa no Brasil promovido pelo
Governo Lula que criou as condições de possibilidade para que eu ingressasse em
uma pós-graduação ainda recém-criada, fora dos tradicionais centros de
pesquisa. Ali, na Universidade Federal de São Carlos, tive um ambiente perfeito
para minha formação. Entre jovens professores, que misturavam rigor e frescor,
tive liberdade e incentivo para ousar. No campo social e da política estatal,
ousar ser doutora. No campo acadêmico, ousar desafiar, a partir de meu material
etnográfico, algumas ideias consolidadas na antropologia.
Infelizmente, essas condições de possibilidade que tornaram este prêmio possível estão neste exato momento ameaçadas. As políticas implementadas nos anos Lula estão sendo rapidamente desmontadas pelos atores políticos que cooperaram para o golpe de Estado ocorrido no Brasil no ano passado. Os investimentos na educação e pesquisa sofreram grandes cortes, as universidades estão vivendo sérias crises financeiras. E essa conjuntura é o principal motivo pelo qual não pude estar presente aqui para receber o prêmio (pelo que novamente peço desculpas).
Ainda assim, estamos na luta, lá no Brasil, para
defender o que conquistamos e para tentar evitar a volta daquele modelo
colonialista que concentra em poucos centros de pesquisa a prerrogativa de
fazer ciência, relegando aos demais o papel de lugares a serem estudados. Ao
mesmo tempo, em outra escala, continuamos também na luta para que não sejamos
vistos somente como fornecedores de matéria prima para o trabalho intelectual,
mas que possamos traçar verdadeiros debates teóricos com nossos colegas do
hemisfério norte.
Acho que esse prêmio é uma demonstração de vitória de todos
aqueles que denunciaram e lutaram contra o colonialismo, na antropologia, nas
políticas acadêmicas e nas políticas estatais. Eu só tenho a agradecer à APLA e
aos colegas que participaram da comissão julgadora pela oportunidade e pelo reconhecimento.
Acredito que cada vez mais poderemos pensar em trabalhos conjuntos,
colaborativos."
1 comentários:
Homenagem merecidíssima, Ventura!
Sem cunho político algum, valeu a garra da educadora!
Abraço
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