22.2.15

Em manifesto, intelectuais denunciam golpe




Documento assinado por nomes de peso da intelectualidade brasileira, como Fabio Konder Comparato, Marilena Chauí, Cândido Mendes, Celso Amorim, João Pedro Stédile, Leonardo Boff, Luiz Pinguelli Rosa e Maria da Conceição Tavares, entre vários outros, denuncia a tentativa de destruição da Petrobras e de seus fornecedores; "Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas", diz o texto; "Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial"; documento propõe pacto pela democracia

20 de Fevereiro de 2015 às 19:35

247 - Um manifesto em defesa da democracia e da Petrobras foi divulgado nesta sexta-feira por alguns dos principais intelectuais brasileiros. O texto denuncia a tentativa de destruição da Petrobras, de seus fornecedores e de tentativa de mudança do modelo que rege a exploração de petróleo no Brasil. Leia, abaixo, texto do jornalista Luis Nassif e, também, o manifesto dos intelectuais:

Por Luís Nassif, do jornal GGN

É hora de encarar os fatos: há uma conspiração em marcha para desestabilizar o governo,
ainda que à custa da desorganização da economia. Não dá mais para tapar o sol com a peneira. É uma conjunção muito grande de fatores:
1.    A cobertura enviesada da mídia em cima de vazamentos seletivos da Operação Lava Jato. Conseguiram transformar até a Swissleaks em operação Lava Jato.
2.    O comportamento do Procurador Geral da República Rodrigo Janot, tratando o crime de vazamento de informações como se fosse uma ocorrência normal.
3.    As declarações sincronizadas da mídia, Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, procurando manietar o já inerte Ministro da Justiça.
4.    A visita de procuradores ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a pretexto de colaborar com as investigações contra a Petrobras.
5.    Finalmente, a decisão do Ministério Público Federal, de agora há pouco, de dar o golpe final contra as empreiteiras da Lava Jato, inviabilizando-as definitivamente.
Não tem lógica alegar estrito cumprimento da lei para liquidar com as empresas. Nem o mais empedernido burocrata ficaria insensível aos efeitos dessa quebra sobre a economia brasileira, sobre empregos e sobre o crescimento.

Qualquer agente público minimamente responsável trataria de apurar responsabilidades e punir duramente as pessoas físicas responsáveis, evitando afetar as empresas, ainda mais sabendo dos desdobramentos sobre a economia como um todo.

Só intenções políticas obscuras para justificar essa marcha da insensatez.

PS - Alo, presidente Dilma Rousseff. Esqueça essa preocupação sobre se as pessoas vão ou não duvidar da sua honestidade. Ninguém duvida dela. Eles não estão atrás da sua reputação: estão atrás do seu cargo. Acorde!

Abaixo, manifesto de personalidades contra o jogo político em andamento.

Manifesto: O QUE ESTÁ EM JOGO AGORA

A chamada Operação Lava Jato, a partir da apuração de malfeitos na Petrobras, desencadeou um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia.

Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais.

Está à vista de todos a voracidade com que interesses geopolíticos dominantes buscam o controle do petróleo no mundo, inclusive através de intervenções militares. Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados. 

Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial.

Por outro lado, esses mesmos setores estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato. Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos.

O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição. Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania.

20 de fevereiro de 2015


Alberto Passos Guimarães Filho
Aldo Arantes
Ana Maria Costa
Ana Tereza Pereira
Cândido Mendes
Carlos Medeiros
Carlos Moura
Claudius Ceccon
Celso Amorim
Celso Pinto de Melo
D. Demetrio Valentini
Emir Sader
Ennio Candotti
Fabio Konder Comparato
Franklin Martins
Jether Ramalho
José Noronha
Ivone Gebara
João Pedro Stédile
José Jofilly
José Luiz Fiori
José Paulo Sepúlveda Pertence
Ladislau Dowbor
Leonardo Boff
Ligia Bahia
Lucia Ribeiro
Luiz Alberto Gomez de Souza
Luiz Pinguelli Rosa
Magali do Nascimento Cunha
Marcelo Timotheo da Costa
Marco Antonio Raupp
Maria Clara Bingemer
Maria da Conceição Tavares
Maria Helena Arrochelas
Maria José Sousa dos Santos
Marilena Chauí
Marilene Correa
Otavio Alves Velho
Paulo José
Reinaldo Guimarães
Ricardo Bielschowsky
Roberto Amaral
Samuel Pinheiro Guimarães
Sergio Mascarenhas
Sergio Rezende
Silvio Tendler
Sonia Fleury
Waldir Pires


15.2.15

Crônica perdida



Ventura Picasso
Saudades desse tempo, desses dias...
É carnaval. O ano de 2015 pede passagem. O século XXI explode de amor e ódio entre os humanos. As religiões reaparecem, magicamente, punindo os pecadores. Um filme de terror em flash back com Gregório em 1231.

Inverno em Paris para quem acredita em deus, inferno no Charles Hebdo que não acredita em nada. 

Era 7 de janeiro de 2015, o ano mal começava. Lembrando Drummond de Andrade: “Que século meu Deus! – exclamaram os ratos e começaram a roer o edifício”.

A revista explodiu levando a vida dos cartunistas sem deus.

Foi o primeiro dia que a totalidade da imprensa nacional não falou: Petrobras! 

No meu termômetro, na cozinha, faltava uma pena para 40°. No jardim, ao final do dia, enquanto refrescava as plantas, Tonico apareceu. É o meu amigo beija flor, numa plumagem brilhante verde escura, fazendo malabarismos em frente ao spray de agua fresca. 

Aqui onde moro, a correnteza do Tietê, acumula mais de quinhentos quilômetros de sua nascente. O nível está dois metros abaixo. Ainda chega agua em nossas torneiras. 

Tonico pousou no poleiro improvisado frente às Acácias. O chão do jardim ficou, após agitação provocada pelo vento, amarelo.

Perguntei ao Tonico como foi a chegada do Ano Novo para ele.

— Chegou o Ano Novo? Não vi! Vejo tudo igual. A Praça Rui Barbosa está muito suja, o mato começa ficar bonito nos canteiros, agua empoçada nas alamedas. Na esquina da Olavo Bilac com Campos Salles, onde precisa, não tem faixa preferencial para pedestres. 

Sou obrigado a concordar com Tonico. Atravessar o semáforo para pedestres, em doze segundos é só para quem frequenta academia, não há velha que consiga. 

Tonico olha aí quem está chegando o bem te vi. 

— Ben?

— E aí, beleza? Qual é o papo Tonico?

— Faixa para pedestres.

— Faixa? Desça a Rua Marechal Deodoro da Fonseca e olhe em todas as esquinas  do lado ímpar – você encontra lixo – faixa para pedestres na Rua D. Pedro II, na Rio Branco e na Virgílio Ribeiro (?) ninguém encontra. O secretário, o primeiro escalão e o segundo, a santíssima coligação da governança não sabe onde fica essa praia.

Ben é um bem te vi anarquista e preconceituoso. Quando encontra com o anu preto Zumbi é só pena que voa. Zumbi não tem onde reclamar, mas reclama por ser perseguido.

— Não tenho preconceito de cor, nem tanto. O cara chega aqui todo soado, sujo de poeira, e mergulha no bebedouro. Não é por ele ser preto, mas por ser porco. Aprendi com a delegada Rosely, pisou na bola: “É tiro, porrada e bomba”. O cara vai aprender a viver em sociedade.

O jornal não chegou liguei reclamando: 
— Não recebi o jornal!
 
— Qual é o seu nome?

— Ventura

— A sua assinatura foi cancelada.

— Que ótimo!

A menina deixou escapar aquele riso, tipo explosão, que quer sair mas não sai.
— Com voz risonha perguntou: o senhor não quer fazer uma nova assinatura?

— Não meu bem, muito obrigado.

Há algum tempo desisti do jornal escrito. Não sou e nunca fui nada importante para o jornal, para o editor chefe, para os jornalistas e fotógrafos, e a tantos quantos estão envolvidos no projeto de produção do jornal diário.

Mas, qual foi o drama? Perguntaram Tonico e Bem.

— Durante a campanha eleitoral fui informado através de uma fotografia que sou apenas um leitor insignificante. Demorou em cair a ficha, assim como no texto sou obrigados a ler e reler, ao visualizar uma foto uso a mesma tática. Tratava-se de uma foto dos dois candidatos à presidência da república no segundo turno. Um candidato, bem focado, sorridente e aparentemente amável conversando com o meu candidato. O meu candidato, consequentemente, bem focado com os cabelos alinhados vestido de vermelho, de costas. O meu candidato no meu jornal estava de costas para mim.

— Ventura, o Bem acha que o jornal tem outro candidato. O jornal é enrustido – aquele tipo anônimo que ninguém gosta – nem o próprio jornal. Falta amor próprio. Respeito!

— E as palavras cruzadas?
Perguntou dona Edna.

— Tudo bem, patroa: eu consigo os dois jornais para a senhora. Pelo menos nas palavras cruzadas eu acredito, mas no conteúdo não.

No labirinto das mentiras políticas cabe apenas uma crônica perdida; não mata como bala, mas abala meus sentimentos, fere e ofende a minha dignidade.

Ventura Picasso

3471

13.2.15

Mídia-bandida e os sonegadores do HSBC



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015 - http://altamiroborges.blogspot.com.br/2015/02/midia-bandida-e-os-sonegadores-do-hsbc.html
 
Por Altamiro Borges



A descoberta de um esquema bilionário de corrupção do HSBC está agitando o mundo. É um dos maiores escândalos do sistema financeiro desde a eclosão das denúncias contra os bancos dos EUA nos anos 1990, que aceleraram a crise do capitalismo. No Brasil, porém, a mídia quase não trata deste assunto. Há várias explicações para esta omissão. A velha mídia está mais preocupada em destruir a Petrobras, na sua incansável campanha pela privatização da estatal, e atacar a presidenta Dilma. Além do fator ideológico e político, ela tem sólidos vínculos com os banqueiros – inclusive depende da sua farta publicidade. Mas podem existir outros motivos menos visíveis. Desde a eclosão do escândalo já se descobriu que o Grupo Clarín, da Argentina, desviou ilegalmente milhões de dólares para o exterior através das maracutaias do HSBC. Será que algum barão da mídia brasileira também está envolvido neste esquema de sonegação?

As primeiras denúncias contra o HSBC surgiram na semana passada. Alguns veículos da imprensa internacional divulgaram que o banco suíço “ajudou” os seus clientes ricos a desviarem bilhões de dólares devidos em impostos através da sua filial em Genebra. As denúncias foram feitas com base no acesso às contas de 106 mil ricaços, vazadas por um ex-funcionário do banco, Hervé Falciani, em 2007. O próprio HSBC já confessou o seu crime e agora é alvo de investigações nos EUA, França, Bélgica e Argentina. Elas confirmam que o banco não apenas fazia vista grossa à evasão de impostos, como também “ajudou ativamente” seus clientes a violarem a lei, enviando orientações por escrito sobre as formas de burlar os tributos.

Diante da gravidade dos vazamentos, obtidos primeiramente pelo jornal francês Le Monde, foi criado um Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) para apurar as denúncias. Ele é constituído pelo jornal The Guardian, a BBC britânica e mais de 45 veículos ao redor do mundo. O ICIJ já concluiu que o banco ajudou empresários, políticos e celebridades midiáticas a sonegarem impostos. Entre outros fatos assustadores, há indícios de que o esquema favoreceu “comerciantes de armas, assistentes de ditadores do Terceiro Mundo, traficantes de diamantes e outros delinquentes internacionais”. Do Brasil, cinco jornalistas integram o consórcio: Angelina Nunes, Amaury Ribeiro Jr., Fernando Rodrigues, Marcelo Soares e Claudio Tognolli.

Nesta terça-feira (10), uma revelação bombástica pode ter assustado os jornalistas investigativos. As apurações comprovaram que os donos do Grupo Clarín – um dos principais impérios midiáticos da América Latina – desviaram mais de US$ 100 milhões para o exterior através do esquema criminoso do HSBC. Dos 4.620 ricaços argentinos envolvidos nas denúncias de sonegação de impostos no país vizinho, os barões da mídia figuram entre os mais ousados – que acham que gozam de total impunidade. “O Grupo Clarín lidera a lista dos argentinos com fundos em Genebra não declarados na Administração Federal de Ingressos Públicos (AFIP)”, revelou a agência estatal de notícias. Será que algum barão da mídia brasileira também está envolvido no esquema criminoso? A Rede Globo, já acusada de sonegação de impostos, tem alguma culpa no cartório? Ela conhece as recomendações, por escrito, do HSBC?

Como aponta a jornalista Patrícia Faermann, do Jornal GGN, é muito estranho o silêncio da mídia brasileira sobre o escândalo da HSBC. “A lista dos nomes de mais de 100 mil correntistas da filial do HSBC em Genebra, que construiu uma indústria de lavagem de dinheiro, intermediada por empresas offshore como forma de fugir da fiscalização dos países de origem, está correndo pelo mundo. Aos poucos, as pessoas e entidades estão sendo reveladas. França, Espanha, Suíça, Dinamarca, Índia, Bélgica, Chile, Argentina e outros países divulgam reportagens detalhadas a cada dia, com novas informações. Menos o Brasil... O ICIJ formou um grupo menor de jornalistas para investigar os documentos do projeto denominado como ‘Swiss Leaks’. Participam todos os países do Consórcio. Do Brasil, Fernando Rodrigues, do UOL, é o único que tem em mãos as apurações dos clientes brasileiros”. Ela apimenta ainda mais suas suspeitas:

“Até o momento, as informações divulgadas pelo ex-repórter da Folha são de que os dados do HSBC indicam 5.549 contas bancárias secretas de brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, em um saldo total de US$ 7 bilhões. Nenhum nome. Fernando Rodrigues explica que entrou em contato com as autoridades brasileiras para saber se há ilegalidade nessas operações bancárias, ou se os valores foram declarados à Receita. E estaria aguardando a resposta... Essa desculpa não bate com o histórico do jornalista. O fato de divulgar a existência da lista e segurar os nomes dá margem a toda sorte de interpretações”.