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Violência política digital contra mulheres negras

 

Violência política digital contra mulheres negras

alarmante, Violência política digital contra mulheres negras atinge nível aponta pesquisa do Instituto Marielle Franco

Levantamento mostra que ameaças de morte e estupro são maioria e que caso Marielle é usado como arma simbólica de intimidação

25 de agosto de 2025, 15:49 h

Violência: mulheres negras com pouca renda convivem com agressores

Violência: mulheres negras com pouca renda                                                                                               convivem com agressores (Foto: Freepick)

Redação Brasil 247 avatarConteúdo postado por: Redação Brasil 247

247 - O Instituto Marielle Franco (IMF) apresentou, nesta quarta-feira (27), no salão nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília, a pesquisa inédita “Regime de ameaça: a violência política de gênero e raça no âmbito digital (2025)”. O levantamento, divulgado pelo próprio Instituto, revela a dimensão e a gravidade dos ataques virtuais sofridos por mulheres negras no campo político brasileiro.

Segundo os dados, obtidos a partir de atendimentos e monitoramentos realizados pelo IMF em parceria com organizações como Instituto Alziras, AzMina, Vote LGBT, Internet LAB, Justiça Global e Terra de Direitos, a violência política digital é sistêmica, coordenada e tem como alvo preferencial mulheres negras, cis, trans e travestis, além de parlamentares, candidatas, ativistas, periféricas e defensoras de direitos humanos.

Entre os casos mapeados, 71% das ameaças envolvem morte ou estupro, e em 63% delas há referência direta ao assassinato de Marielle Franco. O feminicídio político da vereadora carioca se tornou, assim, um instrumento simbólico de intimidação contra mulheres negras que ocupam ou disputam espaços de poder.

“A violência que atinge cada uma delas é também uma violência contra a democracia. São mulheres que carregam, na vida e na luta, a base que sustenta este país – mas seguem invisibilizadas”, destacou Luyara Franco, diretora executiva do IMF e filha de Marielle.

O relatório também propõe medidas concretas para enfrentar o problema. Entre elas está a criação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência Política de Gênero e Raça, que deve envolver ações articuladas entre Estado, Legislativo, sociedade civil e plataformas digitais.

Para Luyara Franco, o estudo comprova que a violência política digital contra mulheres negras não pode ser vista como casos isolados, mas como parte de um sistema estruturado para afastar essas mulheres da vida pública. “Queremos que esta publicação sirva de base para ações concretas de proteção e para responsabilizar agressores e plataformas digitais. Nosso compromisso é com a memória, a justiça e a construção de um país em que as mulheres possam existir e disputar espaços políticos sem medo”, afirmou.

 

O julgamento do século

 

O julgamento do século: o Brasil posto à prova

Julgamento do 8 de janeiro marca a maior prova de maturidade democrática do Brasil desde o fim da ditadura

01 de setembro de 2025, 06:48 h

Jair Bolsonaro, de costas, e Alexandre de Moraes (Foto: Antonio Augusto/STF)

Se nem sempre se pode comparar as manifestações de um indivíduo às da comunidade, há ocasiões em que, de fato, ficamos com a impressão de que persistem fortes analogias. Uma pessoa, enquanto cresce, no processo que a encaminha da infância à juventude e desta à idade adulta, atravessa reações que surpreendem, como surpreende, num país, a existência de uma personalidade coletiva, na evolução da imaturidade para a maturidade. Enquanto vivem, os seres humanos obedecem a impactos de diversas dimensões, o que os conduz aos estágios superiores de suas formas de ser. Como resultado, também oferecem ao ambiente exterior perfis compatíveis com aquilo que, enfim, um dia, imaginam ser representado no concerto das nações. São fenômenos visíveis, sobretudo no caso de países novos, resultantes das descobertas do Renascimento e seus desdobramentos.

Para começar, nessas dores do crescimento, há algo da ordem do psiquismo, quando uma coletividade decide (porque já tem condições de fazê-lo) mostrar-se à altura de seus desafios. É assim que, num golpe de força frustrado, para que não volte a acontecer, a Justiça se ergue e submete os envolvidos a investigações de culpabilidade e inocência, até as provas concludentes e as sentenças que determinam quem vai e quem escapa da cadeia. Os participantes da intentona, se assim agiram, cumpriram papéis precisos, devaneando com a vitória e crendo na impunidade, na hipótese da derrota. Repetiam então circunstâncias históricas de uma eterna tolerância com os insurgentes, por meio de indultos e possibilidades de reincidência. É o que espanta Jair Messias Bolsonaro e seus comparsas, na medida em que, desta feita, veem-se às voltas com leis específicas e Cortes preparadas para os inquirir. Por outro lado, nas rebeldias, pois os inculpados custam a aceitar a condição de réus, sofrem medidas cautelares e, se necessário, prisões preventivas, o que demonstra aos renitentes e aos hesitantes que há um Estado e que este assegura a si o direito de se defender.

Não é sem razão que o julgamento do 8 de janeiro, iniciando-se em 2 de setembro de 2025, pode ser designado como “do século”. Pela primeira vez, em homenagem a um passado nem tão distante (o regime militar de 64, de triste memória, a manobra parlamentar contra Dilma etc.), afirma-se em alto e bom som uma disposição sólida em favor da democracia. Ninguém ignora, a esta altura, nem as vítimas (a sociedade como um todo), nem os algozes, que o Brasil posto à prova superou as dores do crescimento e aprendeu a punir quem deve ser punido. Filhos, parentes e simpatizantes de todos os tipos podem chorar, reclamar com Trump. Não adiantará. Culpados serão condenados e se submeterão a penas severas do nosso elenco de dispositivos legais.

O espetáculo da nossa seriedade, no que se refere às opções pelo sistema democrático, ultrapassará as torcidas pelo futebol. Quem perderá a chance de testemunhar algo de tamanho monumental com que, por uma vez, mas definitivamente, nos revelamos contemporâneos de todos os homens? À prova, nos sairemos com certidões de dignidade. Certos de que ditadores já não se criam neste lado do mundo.

Ronaldo Lima Lins - Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ