10.10.06

TEXTO BÁSICO

Ventura Picasso

Nós que gostamos de escrever estamos o tempo todo atentos para ouvir. Quando alguém, falando a nossa língua, expõe uma opinião que nos toca, é o bastante para nascer uma crônica. Foi o que aconteceu quando saia do mercado e dei de cara com este diálogo entre ‘comadres’, referindo-se ao eleitor do Lula:
- O povo gosta de sofrer!
Na outra calçada, a empregada doméstica de vassoura na mão, eleitora do Lula respondeu à vizinha:
- Pensei que ele fosse perder no primeiro turno coitado, mas mesmo assim ainda foi o mais votado...

Aí está os dois lados da mesma moeda, e eu caminhava e pensava pela rua como num sonho nos cronistas dos maiores veículos de comunicações, que poderiam, sem tomar partido e isentos de paixões, informarem a população, mesmo porque, é para isso que existe a imprensa livre. Liberdade educativa e não de proteção de interesses grupais, seja de qualquer lado político existente, ou da elite econômica.

A deslealdade pública entre as maiores mídias de televisão, chega ao cúmulo de não comentar, ao menos, o ponto mínimo e máximo do debate entre os candidatos ocorrido nas telas do concorrente. Fica provado que há concorrência entre essas empresas, e não compromisso responsável com a nação. Os temas sociais, de interesse verdadeiramente moral (miséria) diante da comunidade nacional e internacional, não é citado pelos papas do jornalismo.

Refletindo melhor sobre as subordinações que recai a cada jornalista como cidadão comum, como ser humano, as dependências de sobrevivência e de manutenção do emprego, onde até por isso, se submetem à vontade de empresários que necessitam do poder político do governo para existir industrial e comercialmente. A maior prova é a descoberta dos sonegadores, na Operação Grandes Lagos, feita pela polícia, localizando a verdadeira Praga da Pecuária, que não só lesava o governo, mas promovia a concorrência desleal entre os empresários da área, revela a gana do poder para manter ilegalmente, 159 empresas do mesmo ramo, por mais de 15 anos. Estes cronistas não aprofundam o tema, escrevem o que é permitido, e exercem a democracia do possível, são prisioneiros do sistema.

Há os que fazem silêncio voluntário, e os que querem informar o leitor e não tem espaço. As limitações de todos os escritores são parecidas, se de um lado fazem o que é permitido do outro também. Quem permite são os donos do dinheiro, das leis, da justiça e do estado. Os cronistas isentos, que não tem onde mandar as suas mensagens e tendo o texto básico do possível obstruído, não podem formar uma platéia mais esclarecida e solidária, é isso o que acontece. Na verdade, os que não tem onde escrever morre de inveja daqueles que podem ‘formar opiniões’, que recebem altos salários servindo a grande mídia, mas mesmo assim e com esse aparato, não conseguem mudar a opinião daquela empregada doméstica na calçada de vassoura na mão.

Passada as eleições e como todos os anos, o povo leva a culpa: ”Eles não sabem votar”! Uma grande quantidade de eleitores de todas as camadas sociais, vão às urnas com as informações produzidas por esse tipo de imprensa, que em muitas vezes, transformam mentiras em verdades provisórias, no interior de laboratórios publicitários que trabalham sob encomenda, e estes sim, se dizem ‘competentes e bons profissionais’, mas vendem a alma e a nação ao demônio, em troca da sobrevivência econômica. O suborno é fruto desse trabalho, que eles chamam de honorários ou salários ‘dignos e honrados’, honra que tem preço, que tem lado e preconceitos. E depois a ladainha: ”O povo gosta de sofrer”.

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