29.11.09


Olimpíada

“Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”. Guimarães Rosa - “Grande Sertão: Veredas”

Em 1950 assisti a dois jogos da Copa do Mundo de Futebol, no Estádio Municipal do Pacaembu, em S. Paulo. Minha memória, como percebe o leitor, já deu o que tinha que dar. Lembro com clareza apenas de um jogo entre as seleções do Uruguai e da Espanha (2 X 2).

Jogo duro acontece sempre, entre a ‘tropa de choque’ do governador paulista, contra os professores. Aqui, por enquanto, os voluntários de classe média, alistados na guarda tucana, querem saber quem manda no trecho. Na última audiência publica do asfalto, na Câmara Municipal, uma dona sem cintura, cidadã de primeira do New York, avançou no microfone; uma das mãos na cintura a outra entortando o pedestal perguntou: “O vereador está satisfeito com a resposta do prefeito? Não estamos aqui para perder tempo etc.”.
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Foi mais duro que a bica, na bola molhada, do Obdulio Varella em direção ao gol do Ramallets. O nível baixou virou uma maluquice. Como todos sabem respeito trovão e raio, diante daquela barulhada que parecia a uniformizada contra o sol, com medo de que a viga caísse na minha cabeça, me retirei.

Naquele dia, em 1950, no Pacaembu, não arredei pé fiquei até o último minuto. Do goleiro Máspole ao capitão Obdulio e Ghiggia, que abriu a contagem para os uruguaios, ao goleiro espanhol Ramallets, alem do famoso atacante Basora que marcou os 2 gols espanhóis, poderia acontecer qualquer coisa. Na garoa paulista, o center-half Varella bateu e falou pro goleiro espanhol: “ Vai buscar Ramallets”. Ele foi; Empatou!

Era junho um frio lascado e eu completava 11 anos de idade. Afirmo com muito orgulho que foi um privilegio ser jovem na década de cinquenta. Logo após a Copa, apesar da derrota do Brasil, cada menino lá na vila tinha uma bola. A minha turma fez uma vaquinha e comprou uma nº. 5 de ‘capotão’. Isso era coisa de profissional. Tinha racha todo dia. Eu só largava a pelada quando mamãe aparecia com um pedaço de pau e me punha pra correr.

Em 2014, ano da nossa próxima Copa do Mundo, haverá um espaço de 64 anos. Tivemos em São Paulo o Pan-americano de 1963, e 44 anos após, em 2007, no Rio de Janeiro. Essas datas nos revelam o quanto o Brasil esteve fora dos maiores eventos esportivo que existem.

E hoje eu me pergunto: O que faz a mídia que não trás o José dos Santos Primo, para explicar o que é preciso para ser um atleta olímpico ou um craque da bola? Perguntar, por exemplo, com que idade um menino ou menina pode começar a trabalhar essa expectativa de vir a ser um atleta? Muitos pais querem saber!

Ventura Picasso. Grupo Experimental – 29112009.

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