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“Pobre
estudar medicina é afronta para a elite”, diz médico formado em Cuba.
31 de julho
de 2013 http://www.mst.org.br/%E2%80%9CPobre-estudar-medicina-%C3%A9-afronta-para-elite%E2%80%9D-diz-m%C3%A9dico-formado-em-Cuba
Por José Coutinho Júnior Da Página do MST
A elitização do ensino de medicina no Brasil é um obstáculo para jovens de baixa renda entrarem nas universidades e se formarem. Já os problemas nas provas de revalidação do diploma dificultam o exercício da profissão em território nacional pelos brasileiros que conseguiram se formar no exterior.
A elitização do ensino de medicina no Brasil é um obstáculo para jovens de baixa renda entrarem nas universidades e se formarem. Já os problemas nas provas de revalidação do diploma dificultam o exercício da profissão em território nacional pelos brasileiros que conseguiram se formar no exterior.
“Quem estuda medicina no nosso país são os filhos das elites, em sua
maioria. É uma afronta para a elite um negro, um pobre, um trabalhador rual,
filho de Sem Terra estudar medicina na faculdade, principalmente pelo status
conferidos por essa profissão”, afirma Augusto César, médico brasileiro formado
em Cuba e militante do MST.
Estudo do Ministério da Educação (MEC) aponta que 88% dos matriculados
em universidades públicas de medicina estudaram em escolas particulares no
ensino fundamental e médio. Os programas do governo de acesso à universidade,
como o Programa Universidade para Todos (ProUni), ampliaram o acesso, mas ainda
não conseguiram universalizar e democratizar a educação.
“A maioria das pessoas que entram na universidade pública para cursar
medicina tem dinheiro para fazer um bom cursinho ou estudou o tempo todo numa
escola particular. Claro que há exceções, mas o ensino de medicina do nosso
país é altamente elitizado”, acredita Augusto.
“A maior parte das pessoas que tem acesso às escolas de medicina são de
classe média e classe média-alta. Um pobre numa universidade particular não
consegue se sustentar pelo alto preço das mensalidades. Sem contar que hoje
temos mais universidades privadas do que públicas na área da saúde,
dificultando ainda mais o acesso”, diz a médica formada em Cuba Andreia
Campigotto, que também é militante do MST.
Revalidação
A necessidade dos médicos brasileiros formados no exterior e
estrangeiros passarem por uma prova para verificar se estão capacitados a
exercer a profissão é um tema frequentemente pautado pela comunidade médica
brasileira.
Independentemente do curso, todos os estudantes brasileiros que realizam
um curso fora do país precisam passar por uma revalidação do diploma. No
entanto, há falhas nesse processo no caso da medicina.
Um dos principais problemas é que não existe um padrão para o conteúdo
dessas provas. Cada universidade federal pode abrir sua prova de reconhecimento
de títulos no exterior. Com isso, o conteúdo não é uniforme.
Além disso, o custo dessas avaliações é alto. A Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) cobra uma taxa de inscrição de R$1.172,20. Outras
universidades pelo país têm preços similares.
Preconceito
“As provas são injustas, porque têm um nível de médicos especialistas, e
não de 'generalistas', que é o que somos após nos graduar. Isso causa uma
desaprovação considerável dos estudantes que vem de fora”, acredita Andréia.
“O que a categoria médica não divulga é que 50% dos estudantes da USP
reprovaram na prova feita pelo Conselho de Medicina de São Paulo. Foi uma prova
para médico generalista, muito mais fácil que a de revalidação”, revela.
Para Andréia, há um “grande preconceito” por parte dos profissionais
brasileiros em relação aos médicos formados em outros países, o que cria um
entrave para a revalidação dos diplomas.
“Seria justo se os profissionais que se formam no Brasil fizessem as
mesmas provas que nós, para ver se realmente se comprova uma suposta má
formação de nossa parte, bem como discursa a categoria médica brasileira”,
observa.
Os dois médicos defendem a realização de uma avaliação dos conhecimentos
dos profissionais graduados no exterior, mas destacam que as provas atuais não
cumprem esse papel, porque não são aplicados testes adequados para auferir o
conhecimento.
“As provas teóricas e práticas atuais não levam em conta as
complexidades. Seria muito melhor colocar esse médico para trabalhar sob um
tutor e, a partir daí, se instaurar uma avaliação rigorosa e permanente. Mas
isso não tem sido pensado”, pontua Augusto.
Formação
A concepção de medicina ensinada nas universidades impede também que os
estudantes vejam a luta pela saúde além do tratamento de doenças.
“Nas universidades de medicina, só se vê doença. Não se fala em
saúde. Como você pode lutar pela saúde se só vê doenças? Também é saúde lutar
pelo direito à cidade e por um sistema público de saúde de qualidade”, destaca
Augusto.
De acordo com o militante, a concepção de saúde deve ultrapassar uma
formação técnica. “O médico deve exercer a medicina a favor da construção de um
país mais saudável, sem esperar que as pessoas ou uma comunidade adoeça para
depois intervir sobre ela, pois é o modo de vida que vivemos que gera as
doenças do país”, defende.
Andreia quer se tornar professora de medicina para colaborar para a
mudança da forma de ensinar das universidades. Ela se classificou na primeira
fase do concurso para lecionar na Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG).
Segundo ela, o campo da educação deve ser ocupado por aqueles que querem
democratizar a educação. “Precisamos formar profissionais com um novo perfil,
realmente voltados para atender o povo, para se fixar nos locais de difícil
acesso, não só nos grandes centros como hoje. É um campo interessante de
atuação”.
* Essa matéria faz parte de uma série de reportagens com dois médicos que analisam as diferenças entre os cursos e a concepção de medicina em Cuba e no Brasil. No próximo texto, que será divulgado na sexta-feira na Página do MST, Andreia e Augusto opinam sobre a vinda dos médicos estrangeiros para o Brasil e analisam os problemas no sistema de saúde brasileiro, como a falta de estrutura nos hospitais.
* Essa matéria faz parte de uma série de reportagens com dois médicos que analisam as diferenças entre os cursos e a concepção de medicina em Cuba e no Brasil. No próximo texto, que será divulgado na sexta-feira na Página do MST, Andreia e Augusto opinam sobre a vinda dos médicos estrangeiros para o Brasil e analisam os problemas no sistema de saúde brasileiro, como a falta de estrutura nos hospitais.
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