10.8.17

"GO FILHO DA PUTA"



VENTURA PICASSO
Não é o que está pensando, JB, mas pode vir a ser. A rede mundial de computadores, acolheu em seu berço, milhões que opinam com um vocabulário utilizado no submundo, nas periferias, nas arquibancadas, nas bocas de fumo, boates, danceterias, gafieiras, bordeis, paróquias e funerais.

É lá onde está a origem da arte, da moda e da linguagem. Queiram ou não o moderno nasce nas profundezas do mangue poluído.   
  
O romantismo foi congelado pela ganancia monetária dos mentirosos, e a liberdade de comunicação pelo atrevimento; que falta nos faz a convivência solidária, observando o movimento, sentado à beira da calçada! 

Lá pelas tantas eu não curto... 140 dígitos?

A doçura, a gentileza com que o outro nos tratava acabou. Os sonhos para viver um futuro incerto, sem aposentadoria, é a única certeza. 

Sonho?

Como assim, o Brasil acabou, não sobraram lembranças muito menos sonhos. 

Ao fim de uma palestra sobre conjuntura na universidade, educadamente, o professor perguntou:
― “O que será do futuro”?
― Não sei!

E não sabia. Nunca pensei, que criminosos da pior espécie assumissem o governo do Brasil.

Não sei o que fazer nem para onde ir.

Não posso fazer o que fez Guevara, ao abandonar a África, para encontrar a morte na Bolívia.

Fomos atacados e estamos sendo destruídos. Espero algo pior, mesmo imaginando que a nossa sociedade passivamente se acomode, à nova realidade. 

Como fiquei impossibilitado de estudar a conjuntura política futura, voltei ao tempo da brilhantina.

Contratado em segredo para um evento social onde o 1º item do documento exigia sigilo absoluto sobre tudo o que poderia acontecer. 

A equipe completa na hora marcada embarca em vários automóveis na garagem do Tribunal de Contas. Saímos para o trabalho que só o motorista conhecia o destino.  
  
― É aqui a Chácara Tangará, Morumbi, chegamos.
Do motorista as suas únicas palavras.  

― O Jardim do Burle Marx? 

― Isso não sei.

Os automóveis se afastavam enquanto a porta da mansão se abria. 

― Quantos homens vieram?
― Dose.
― OK dose – Credenciais, convite e identificação.
― Por favor aguardem um momento aqui no hall.

Era um ambiente pequeno, todos murmuravam, cochichando na orelha do Delamor; Pepe um espanhol irrequieto, admirado apontou o nariz ao quadro na parede. 

― Um cavalo de corrida.
― Viu o nome do animal? ... Fi...

Fiquei cara a cara com o FP, todos esticaram o pescoço. Cara...

O chefe do cerimonial chegou cobrando atenção. De agora até o fim do trabalho madame Lucélia é a responsável pelo atendimento aos senhores.

Lucélia, uma portuguesa brilhosa quarentona, cheirosa vestida de ouro dos pés à cabeça, o único contado entre o grupo e aquele mundo quase secreto. 

A equipe naquele momento foi informada sobre o trabalho: Madame, carinhosamente falou que se tratava de um casamento; O casamento de Giulio Cesare. 

A equipe de reportagem não teve dificuldade para rodar o documentário. Lucélia não largou mais do braço do diretor. Os convidados, espalhados pela grama do jardim, secavam as derradeiras taças de Moët & Chandon Impérial Brut. 

As luzes começaram a perder o brilho. Um riso descontrolado num canto, uma queda na piscina no outro...

A caminho do Hotel Jaraguá em companhia de Lucélia, o fotografo quis saber a história do cavalo.
  
― Foi presente. O nome uma homenagem. Baby quando viu essa obra exposta em São Paulo arrematou-a imediatamente.  

Havia um figurão inglês, Lorde Salysburi, que gostava de uma portuguesa. Esta porém após um curto namoro, trocou-o por um patrício de Lisboa.

Sob encomenda, em 1815, John Frederick pintou o cavalo que hoje pode ser visto no museu Doncaster Museum Service (Inglaterra).

Salysburi amava a língua portuguesa. A história do cavalo tinha algo em comum com a traição lusitana. Cheio de ódio e dor de cotovelo, o gringo ao ver a pintura, viu também a ingrata, e batizou o animal:” FILHO DA PUTA”.  O cavalo em sua época foi campeão.

Lorde inglês se sentia realizado quando o cavalo cruzava o disco final na ponta da correria, vencendo as corridas, e a torcida inglesa em êxtase gritando:

” GO FILHO DA PUTA”!

JB, não pensei no Temer, não veio ao caso...




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