VENTURA PICASSO
Não é o que
está pensando, JB, mas pode vir a ser. A rede mundial de computadores, acolheu
em seu berço, milhões que opinam com um vocabulário utilizado no submundo, nas
periferias, nas arquibancadas, nas bocas de fumo, boates, danceterias,
gafieiras, bordeis, paróquias e funerais.
É lá onde
está a origem da arte, da moda e da linguagem. Queiram ou não o moderno nasce
nas profundezas do mangue poluído.
O romantismo
foi congelado pela ganancia monetária dos mentirosos, e a liberdade de
comunicação pelo atrevimento; que falta nos faz a convivência solidária,
observando o movimento, sentado à beira da calçada!
Lá pelas
tantas eu não curto... 140 dígitos?
A doçura, a
gentileza com que o outro nos tratava acabou. Os sonhos para viver um futuro
incerto, sem aposentadoria, é a única certeza.
Sonho?
Como assim, o
Brasil acabou, não sobraram lembranças muito menos sonhos.
Ao fim de uma
palestra sobre conjuntura na universidade, educadamente, o professor perguntou:
― “O que será
do futuro”?
― Não sei!
E não sabia.
Nunca pensei, que criminosos da pior espécie assumissem o governo do Brasil.
Não sei o que
fazer nem para onde ir.
Não posso
fazer o que fez Guevara, ao abandonar a África, para encontrar a morte na
Bolívia.
Fomos
atacados e estamos sendo destruídos. Espero algo pior, mesmo imaginando que a
nossa sociedade passivamente se acomode, à nova realidade.
Como fiquei
impossibilitado de estudar a conjuntura política futura, voltei ao tempo da
brilhantina.
Contratado em
segredo para um evento social onde o 1º item do documento exigia sigilo
absoluto sobre tudo o que poderia acontecer.
A equipe
completa na hora marcada embarca em vários automóveis na garagem do Tribunal de
Contas. Saímos para o trabalho que só o motorista conhecia o destino.
― É aqui a
Chácara Tangará, Morumbi, chegamos.
Do motorista
as suas únicas palavras.
― O Jardim do
Burle Marx?
― Isso não
sei.
Os automóveis
se afastavam enquanto a porta da mansão se abria.
― Quantos
homens vieram?
― Dose.
― OK dose – Credenciais,
convite e identificação.
― Por favor
aguardem um momento aqui no hall.
Era um
ambiente pequeno, todos murmuravam, cochichando na orelha do Delamor; Pepe um
espanhol irrequieto, admirado apontou o nariz ao quadro na parede.
― Um cavalo
de corrida.
― Viu o nome do
animal? ... Fi...
Fiquei cara a
cara com o FP, todos esticaram o pescoço. Cara...
O chefe do
cerimonial chegou cobrando atenção. De agora até o fim do trabalho madame
Lucélia é a responsável pelo atendimento aos senhores.
Lucélia, uma
portuguesa brilhosa quarentona, cheirosa vestida de ouro dos pés à cabeça, o
único contado entre o grupo e aquele mundo quase secreto.
A equipe
naquele momento foi informada sobre o trabalho: Madame, carinhosamente falou
que se tratava de um casamento; O casamento de Giulio Cesare.
A equipe
de reportagem não teve dificuldade para rodar o documentário. Lucélia não
largou mais do braço do diretor. Os convidados, espalhados pela grama do
jardim, secavam as derradeiras taças de Moët & Chandon Impérial Brut.
As luzes começaram a perder o brilho. Um riso
descontrolado num canto, uma queda na piscina no outro...
A caminho do Hotel Jaraguá em companhia de Lucélia, o
fotografo quis saber a história do cavalo.
― Foi presente. O nome uma homenagem. Baby quando viu essa
obra exposta em São Paulo arrematou-a imediatamente.
Havia um figurão inglês, Lorde Salysburi, que gostava de
uma portuguesa. Esta porém após um curto namoro, trocou-o por um patrício de
Lisboa.
Sob encomenda, em 1815, John Frederick pintou o cavalo que
hoje pode ser visto no museu Doncaster Museum Service (Inglaterra).
Salysburi amava a língua portuguesa. A história do cavalo
tinha algo em comum com a traição lusitana. Cheio de ódio e dor de cotovelo, o
gringo ao ver a pintura, viu também a ingrata, e batizou o animal:” FILHO DA
PUTA”. O cavalo em sua época foi
campeão.
Lorde inglês se sentia realizado quando o cavalo cruzava o
disco final na ponta da correria, vencendo as corridas, e a torcida inglesa em êxtase
gritando:
” GO FILHO DA PUTA”!
JB, não pensei no Temer, não veio ao caso...
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