15.11.25

8,6 mil cargos de professores

 

Governo vai criar 8,6 mil cargos de professores e técnicos em educação

Lula disse que é mais barato criança na escola do que jovem na cadeia

Luiz Claudio Ferreira - Repórter da Agência Brasil

Publicado em 14/11/2025 - 17:34

Brasília

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta sexta-feira (14) duas mensagens que encaminham ao Congresso Nacional projetos de lei voltados à área de educação. 

O primeiro projeto altera a lei orçamentária para autorizar a criação de mais 8,6 mil cargos de magistério superior e técnico administrativo em educação, e assim poder aumentar o quantitativo de 21.204 para 29.804.

O segundo projeto cria um plano especial de cargos no Ministério da Educação (MEC), composto por cargos de nível superior, intermediário e auxiliar. 

Em evento que agraciou 262 pessoas com a Ordem do Mérito Educativo, Lula disse que é mais barato financiar educação para as crianças do que manter um jovem na cadeia por falta de oportunidades.

Acompanhe a cobertura completa da EBC na COP30 

Crítica

O presidente afirmou que tudo o que for necessário para homenagear trabalhadores da educação é pouco. 

“Muita gente nunca quis que o povo brasileiro fosse educado. É como se fosse uma coisa vergonhosa para a elite durante tantas décadas e séculos não permitir que o povo brasileiro tivesse acesso à educação”, disse o presidente, em evento no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília.

Lula lamentou ainda que, mesmo com todo o investimento feito na educação brasileira, na comparação com Chile e Argentina, o país tem, proporcionalmente, menos jovens na universidade. 

O presidente disse que vai anunciar, ainda neste mês, as universidades dos Esportes e a Indígena. 

Mérito Educativo 

A Ordem do Mérito Educativo incluiu escritores, professores e autoridades públicas. Na relação, nomes como os imortais da Academia Brasileira de Letras Ailton Krenak e Ana Maria Gonçalves, os escritores Fernando Morais, Fabricio Carpinejar, Raduan Nassar e Cristine Takuá. Influenciadores como Gilberto José Nogueira, o Gil do Vigor, e Felipe Neto também estiveram entre os homenageados.

Gil do Vigor lembrou que foi a educação pública que transformou a sua vida. Beneficiário do Bolsa Família e da política de cotas, ele conta que foi graças ao estímulo da mãe que conseguiu atingir seus objetivos. “Ela me disse que tínhamos uma marreta para atravessar a parede capaz de transformar a vida. E essa marreta é a educação”.

Hoje, Gil tem um curso solidário chamado de Aulão do Vigor e anunciou que vai ingressar no pós-doutorado na Universidade de Chicago. 

“Eu sou um exemplo de como as políticas de inclusão garantem a transformação. A educação salva vidas”, emocionou-se.  

Houve ainda homenagens póstumas entregues a familiares de pessoas como o escritor e ativista Antonio Bispo, o Nego Bispo; para o ex-reitor Luis Carlos Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina, e para a professora Elisabeth Tenreiro, que morreu em ataque à escola Thomazia Montoro, em 2023.

Confira a lista dos agraciados 

Caminho transformador

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que a educação é o único caminho transformador de uma nação. Ele lembrou que a entrega da Ordem Nacional do Mérito Educativo integra as ações de comemoração dos 95 anos do MEC

“Essa celebração reafirma nosso compromisso com educação pública forte (...) As pessoas que recebem essa comenda têm papel fundamental no Brasil que queremos”, afirmou o ministro.

Condecoração

A Ordem Nacional do Mérito Educativo foi criada em 1955, mas regulamentada apenas em julho de 2003. As condecorações são entregues a personalidades nacionais e estrangeiras que se destacaram em ações para a melhoria e o desenvolvimento do ensino e da educação brasileira. 

Os homenageados são reconhecidos nos graus: Grã-Cruz, Grande Oficial, Comendador, Oficial e Cavaleiro. As nomeações e promoções são feitas por decreto do Presidente da República, mediante proposta do ministro da Educação.

 

14.11.25

Jovens vão a Cuba estudar a medicina

 

Jovens da Bahia vão a Cuba estudar a medicina com valores humanos. O objetivo da instituição é formar especialistas em medicina geral integral, com alto nível científico e sólidos valores humanos

14 de novembro de 2025, 18:18 hAtualizado em 14 de novembro de 2025, 18:27 h

Faculdade de medicina em Cuba

Faculdade de medicina em Cuba (Foto: Ascom)

Conteúdo postado por: Leonardo Sobreira

247 - A Secretaria de Saúde da Bahia informou nesta sexta-feira (14) sobre a abertura de um processo seletivo para 60 jovens do estado, interessados em estudar medicina em Cuba. Este ano, 30 jovens cearenses já viajaram para a ilha, para iniciar seus estudos de medicina. Os futuros médicos irão para a Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), localizada na capital cubana, onde serão formados como médicos generalistas em 6 anos. 

A ELAM é um projeto de cooperação e formação de médicos, iniciado em 1999, por iniciativa de Fidel Castro, após a passagem de dois furacões pela América Central, que causaram a morte de mais de 10 mil pessoas e milhões de desabrigados, o que gerou o envio de médicos cubanos, diante da escassez de médicos nessas nações. 

O objetivo da instituição é formar especialistas em medicina geral integral, com alto nível científico e sólidos valores humanos, para contribuir com a assistência à saúde em países e áreas economicamente desfavorecidas, de acordo com o consulado cubano. 

As bolsas são concedidas por governos e organizações sociais a jovens de baixa renda, com o único compromisso de retornar às suas comunidades, uma vez formados em medicina. 

No 25º aniversário da fundação da ELAM, o presidente cubano, Miguel Díaz Canel, informou que a escola havia formado 31.180 médicos de 122 países, com representação em todas as regiões do mundo: 2.534 da África, 26.233 da América, 2.165 da Ásia, 7 da Europa e 241 da Oceania. Isso inclui centenas de estudantes dos EUA.  

Atualmente, 1.877 estudantes de 100 países estão matriculados em todos os anos do curso de Medicina, tanto em Havana quanto no resto do país.

Jovens brasileiros também se beneficiaram desse projeto de formação. Até o momento, mais de mil jovens do país se formaram como médicos em Cuba.

 

13.11.25

Chacina no Rio é complô contra Lula

 

'Chacina no Rio é parte de um complô contra o presidente Lula', aponta Paulo Sérgio Pinheiro

“O Rio e outros estados se se parecem como fortalezas contra o poder federal”, avalia o ex-ministro

13 de novembro de 2025, 09:36 h

Paulo Sérgio Pinheiro

Paulo Sérgio Pinheiro (Foto: Brasil247)

Conteúdo postado por: Guilherme Levorato

247 - A entrevista concedida pelo professor titular de ciência política da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, à TV 247, expôs a avaliação de que a mais recente chacina no Rio de Janeiro integra uma operação com motivação política contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o ex-ministro, a perícia criminal fluminense reproduz um problema estrutural que se arrasta há décadas. Ele afirma que “a perícia do Rio de Janeiro, como todo órgão policial, está totalmente controlada pelo governo de extrema-direita do governador Cláudio Castro”, ressaltando que o Brasil constitucional ainda não conseguiu garantir independência técnica nesses órgãos. Para ele, o fato de as secretarias de segurança seguirem à frente das perícias significa que “os próprios investigados controlam a perícia”, o que inviabiliza investigações isentas sobre operações policiais deste tipo.

Pinheiro também avalia que o ambiente político e institucional fluminense se consolidou como um território resistente à atuação do governo federal. “O Rio de Janeiro e outros estados se parecem como fortalezas contra o poder federal”, declarou, criticando o que considera uma cultura consolidada de autonomia armada.

Outro ponto destacado foi a intenção da extrema-direita de classificar organizações criminosas como narcoterroristas, medida que ele considera despropositada. Para Pinheiro, “considerar organizações criminosas como narcoterroristas é realmente um absurdo total”, uma estratégia que, segundo afirma, serve mais ao discurso político da extrema direita do que à realidade das investigações.

Ao comentar a megaoperação que mobilizou 2,5 mil agentes, o professor foi enfático ao apontar elementos que, em sua visão, reforçam o caráter político da ação. “Tudo foi montado para ser gravado, os 2,5 mil homens… Para que 2,5 mil homens? O que eles fizeram?”, questionou. Ele destacou a cobrança do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que solicitou detalhamento da atuação de cada agente mobilizado. Para Pinheiro, o episódio se insere claramente em “um contexto político de uma conspiração, de um complô de extrema direita, depois da condenação de seu líder máximo [Jair Bolsonaro] e seus capangas generais que estavam a fim de dar um golpe”.

O cientista político avalia ainda que o país enfrenta um acúmulo de distorções institucionais que corroem a democracia. “É um conjunto de excrescências que a governança democrática não conseguiu ainda debelar”, afirmou, defendendo novas formas de enfrentamento às dinâmicas de segurança pública dominadas por governos estaduais alinhados à extrema direita.

Para Pinheiro, qualquer tentativa de cooperação que envolva os atuais gestores estaduais está fadada ao fracasso. “Isso só vai ser debelado se for feito de maneiras diferentes. Não adianta criar um centro de cooperação com o próprio autor da chacina, que é o governador Cláudio Castro”, declarou. Ele completou afirmando que “ele e outros colegas só veem essa forma de lidar com o crime organizado”, criticando a lógica de operações espetaculosas e sem transparência que, na avaliação do pesquisador, aprofundam a crise de segurança no país.

 

22.10.25

Mudança de Fux pode dar maioria bolsonarista

 

Mudança de Fux pode dar maioria bolsonarista na 2ª Turma do STF. Pedido do ministro para trocar de colegiado criaria bloco conservador com Mendonça e Nunes Marques e acende alerta sobre riscos à independência da Corte

22 de outubro de 2025, 05:08 h

O ministro do STF Luiz Fux - 14 de outubro de 2025 (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

Redação Brasil 247 avatarConteúdo postado por: Redação Brasil 247

247 – O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu para deixar a Primeira Turma e integrar a Segunda Turma da Corte — um movimento que, segundo analistas, pode alterar o equilíbrio interno do Tribunal e fortalecer a ala bolsonarista. A solicitação, apresentada como uma questão administrativa, é interpretada como uma manobra política de alto impacto, com potencial para ameaçar a independência e a harmonia institucional do Supremo.

A informação foi publicada pela Revista Fórum em 21 de outubro de 2025. Segundo a reportagem, a transferência de Fux abriria espaço para uma maioria ideológica na Segunda Turma, composta por ele próprio, André Mendonça e Kássio Nunes Marques — três ministros identificados com o bolsonarismo. (Revista Fórum)

O que está em jogo

O Supremo é formado por 11 ministros, divididos em duas Turmas de cinco integrantes cada; o presidente da Corte não participa desses colegiados. Atualmente, Fux integra a Primeira Turma, ao lado de Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes. O pedido do ministro será avaliado pelo presidente do STF, Edson Fachin, e visa ocupar a vaga deixada por Luís Roberto Barroso, que anunciou sua aposentadoria.

Caso o pedido seja aceito, a Segunda Turma passará a contar com Luiz Fux, André Mendonça, Kássio Nunes Marques, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. De acordo com a Revista Fórum, a presença dos três ministros alinhados à extrema direita criaria um “bastião bolsonarista”, capaz de influenciar julgamentos de grande relevância política, como os relacionados ao 8 de janeiro, prerrogativas parlamentares e casos de corrupção envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ainda que os três ministros representem minoria no Plenário do STF, sua predominância em uma das Turmas garantiria controle sobre metade dos julgamentos de processos sensíveis. A reportagem lembra que Fux tem adotado posições favoráveis a investigados ligados ao 8 de janeiro e cita sua decisão de absolver Bolsonaro em 10 de setembro, o que reforça as preocupações quanto às motivações do pedido.

A decisão de Fachin

A aprovação ou não da transferência caberá ao presidente Edson Fachin, que precisará avaliar os impactos institucionais do movimento. Conforme a análise publicada pela Revista Fórum, aceitar o pedido seria “abrir uma brecha perigosa” que enfraqueceria a credibilidade e a independência do Supremo Tribunal Federal, pilar essencial do Estado democrático de Direito.

A estrutura das Turmas define a primeira instância de julgamento de muitos casos e influencia o ritmo e o alcance das decisões. Por isso, qualquer alteração de composição pode ter efeitos políticos profundos. O caso de Fux reacende o debate sobre a necessidade de preservar a neutralidade e o equilíbrio interno do STF diante da crescente pressão de grupos políticos organizados.

 

10.10.25

O fantasma Lula 2026

O fantasma Lula 2026 tira o sono dos deputados que odeiam os pobres

Na raiz das decisões do Congresso Nacional, está o ódio devotado aos pobres pela elite brasileira

10 de outubro de 2025, 13:11 h

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília - 09/07/2025

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília - 09/07/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

O presidente Lula reclamou da pobreza de espírito dos deputados do Centrão e da extrema direita que se pautam pela aproximação das eleições, em detrimento dos interesses maiores da população e do país.

Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a oposição sabotou o povo, para prejudicar o presidente Lula, e lembrou que o governo apresentou a medida provisória taxando um pouco mais bancos, bets e bilionários para garantir investimentos em saúde, educação e previdência em 2026.

Vale acrescentar, porém, que na raiz das decisões do Congresso Nacional, está o ódio devotado aos pobres pela elite brasileira, conforme assinala o professor Jessé de Souza em seu livro "A elite do atraso."

E como a composição do Congresso Nacional reflete de forma invertida a nossa sociedade, com a grande maioria dos parlamentares colocando seus mandatos a serviço dos ricos e dos super-ricos, enquanto a imensa massa de trabalhadores e pobres são extremamente sub-representados, dificilmente são aprovados projetos que contrariem o mercado financeiro, os latifundiários e os grandes capitalistas em geral. 

Os motivos que concorrem para essa realidade dariam margem a vários artigos, mas é importante insistir que tão importante quanto reeleger Lula ano que vem é eleger deputados e senadores comprometidos com causas populares e democráticas, reduzindo as bancadas dos endinheirados.

Isto posto, vale destacar que o Senado só jogou no lixo a PEC da Bandidagem e a Câmara só aprovou por unanimidade a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e descontos para a faixa até R$ 7.350 devido à grande mobilização dos brasileiros, com centenas de milhares de pessoas indo às ruas em 39 cidades do país, no dia 21 de setembro, para expressar sua indignação. 

Pouco mais de duas semanas depois, a Câmara retomou seu padrão normal de atuação. Desta vez, não resta dúvida de que a divulgação das últimas pesquisas mostrando o crescimento consistente da aprovação do governo do presidente Lula e a ampliação do seu favoritismo na eleição presidencial assombraram os deputados do Centrão e da extrema direita.

Não enganam ninguém com o mantra neoliberal segundo o qual o Brasil já paga impostos demais, quando o que está em jogo é apenas fazer um pouco de justiça tributária. Não tem cabimento uma professora pagar 27,5% de imposto e os super-ricos se negarem a pagar 18%.

Na cabeça dos parlamentares conservadores, a conta é tão simples quanto sórdida: com menos R$ 30 bilhões, o governo Lula terá dificuldades para seguir investindo forte em programas sociais que melhoram a vida das pessoas. 

Contudo, a julgar pela forte reação nas redes sociais, onde os protestos contra a sabotagem dos deputados lideram o número de postagens, é de se prever que novas mobilizações de rua não tardarão a acontecer.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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Bepe Damasco

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1.9.25

Violência política digital contra mulheres negras

 

Violência política digital contra mulheres negras

alarmante, Violência política digital contra mulheres negras atinge nível aponta pesquisa do Instituto Marielle Franco

Levantamento mostra que ameaças de morte e estupro são maioria e que caso Marielle é usado como arma simbólica de intimidação

25 de agosto de 2025, 15:49 h

Violência: mulheres negras com pouca renda convivem com agressores

Violência: mulheres negras com pouca renda                                                                                               convivem com agressores (Foto: Freepick)

Redação Brasil 247 avatarConteúdo postado por: Redação Brasil 247

247 - O Instituto Marielle Franco (IMF) apresentou, nesta quarta-feira (27), no salão nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília, a pesquisa inédita “Regime de ameaça: a violência política de gênero e raça no âmbito digital (2025)”. O levantamento, divulgado pelo próprio Instituto, revela a dimensão e a gravidade dos ataques virtuais sofridos por mulheres negras no campo político brasileiro.

Segundo os dados, obtidos a partir de atendimentos e monitoramentos realizados pelo IMF em parceria com organizações como Instituto Alziras, AzMina, Vote LGBT, Internet LAB, Justiça Global e Terra de Direitos, a violência política digital é sistêmica, coordenada e tem como alvo preferencial mulheres negras, cis, trans e travestis, além de parlamentares, candidatas, ativistas, periféricas e defensoras de direitos humanos.

Entre os casos mapeados, 71% das ameaças envolvem morte ou estupro, e em 63% delas há referência direta ao assassinato de Marielle Franco. O feminicídio político da vereadora carioca se tornou, assim, um instrumento simbólico de intimidação contra mulheres negras que ocupam ou disputam espaços de poder.

“A violência que atinge cada uma delas é também uma violência contra a democracia. São mulheres que carregam, na vida e na luta, a base que sustenta este país – mas seguem invisibilizadas”, destacou Luyara Franco, diretora executiva do IMF e filha de Marielle.

O relatório também propõe medidas concretas para enfrentar o problema. Entre elas está a criação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência Política de Gênero e Raça, que deve envolver ações articuladas entre Estado, Legislativo, sociedade civil e plataformas digitais.

Para Luyara Franco, o estudo comprova que a violência política digital contra mulheres negras não pode ser vista como casos isolados, mas como parte de um sistema estruturado para afastar essas mulheres da vida pública. “Queremos que esta publicação sirva de base para ações concretas de proteção e para responsabilizar agressores e plataformas digitais. Nosso compromisso é com a memória, a justiça e a construção de um país em que as mulheres possam existir e disputar espaços políticos sem medo”, afirmou.

 

O julgamento do século

 

O julgamento do século: o Brasil posto à prova

Julgamento do 8 de janeiro marca a maior prova de maturidade democrática do Brasil desde o fim da ditadura

01 de setembro de 2025, 06:48 h

Jair Bolsonaro, de costas, e Alexandre de Moraes (Foto: Antonio Augusto/STF)

Se nem sempre se pode comparar as manifestações de um indivíduo às da comunidade, há ocasiões em que, de fato, ficamos com a impressão de que persistem fortes analogias. Uma pessoa, enquanto cresce, no processo que a encaminha da infância à juventude e desta à idade adulta, atravessa reações que surpreendem, como surpreende, num país, a existência de uma personalidade coletiva, na evolução da imaturidade para a maturidade. Enquanto vivem, os seres humanos obedecem a impactos de diversas dimensões, o que os conduz aos estágios superiores de suas formas de ser. Como resultado, também oferecem ao ambiente exterior perfis compatíveis com aquilo que, enfim, um dia, imaginam ser representado no concerto das nações. São fenômenos visíveis, sobretudo no caso de países novos, resultantes das descobertas do Renascimento e seus desdobramentos.

Para começar, nessas dores do crescimento, há algo da ordem do psiquismo, quando uma coletividade decide (porque já tem condições de fazê-lo) mostrar-se à altura de seus desafios. É assim que, num golpe de força frustrado, para que não volte a acontecer, a Justiça se ergue e submete os envolvidos a investigações de culpabilidade e inocência, até as provas concludentes e as sentenças que determinam quem vai e quem escapa da cadeia. Os participantes da intentona, se assim agiram, cumpriram papéis precisos, devaneando com a vitória e crendo na impunidade, na hipótese da derrota. Repetiam então circunstâncias históricas de uma eterna tolerância com os insurgentes, por meio de indultos e possibilidades de reincidência. É o que espanta Jair Messias Bolsonaro e seus comparsas, na medida em que, desta feita, veem-se às voltas com leis específicas e Cortes preparadas para os inquirir. Por outro lado, nas rebeldias, pois os inculpados custam a aceitar a condição de réus, sofrem medidas cautelares e, se necessário, prisões preventivas, o que demonstra aos renitentes e aos hesitantes que há um Estado e que este assegura a si o direito de se defender.

Não é sem razão que o julgamento do 8 de janeiro, iniciando-se em 2 de setembro de 2025, pode ser designado como “do século”. Pela primeira vez, em homenagem a um passado nem tão distante (o regime militar de 64, de triste memória, a manobra parlamentar contra Dilma etc.), afirma-se em alto e bom som uma disposição sólida em favor da democracia. Ninguém ignora, a esta altura, nem as vítimas (a sociedade como um todo), nem os algozes, que o Brasil posto à prova superou as dores do crescimento e aprendeu a punir quem deve ser punido. Filhos, parentes e simpatizantes de todos os tipos podem chorar, reclamar com Trump. Não adiantará. Culpados serão condenados e se submeterão a penas severas do nosso elenco de dispositivos legais.

O espetáculo da nossa seriedade, no que se refere às opções pelo sistema democrático, ultrapassará as torcidas pelo futebol. Quem perderá a chance de testemunhar algo de tamanho monumental com que, por uma vez, mas definitivamente, nos revelamos contemporâneos de todos os homens? À prova, nos sairemos com certidões de dignidade. Certos de que ditadores já não se criam neste lado do mundo.

Ronaldo Lima Lins - Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

24.8.25

A cor azul da decadência

 

A metanfetamina azul virou assinatura visual de uma economia do desespero

24 de agosto de 2025, 14:49 h

Bandeira dos EUA no Departamento de Justiça - 15/12/2020

Bandeira dos EUA no Departamento de Justiça -                                                                                                                                                        15/12/2020 (Foto: REUTERS/Al Drago)

Da carne fluorescente de javalis ao cristal azul de Breaking Bad, dos surtos de peste ao avanço do fentanil, os Estados Unidos expõem na cor de seus venenos a falência de um império.

O país que vendeu eficiência como identidade tropeça numa crise que se tornou rotina, um ciclo de mortes por fentanil, um governo que transforma tragédia de saúde pública em justificativa para taxar vizinhos e rivais, um tabuleiro comercial usado para encobrir a incapacidade de cuidar da própria população. O tarifeiro laranja invoca a epidemia de opioides para endurecer com China, México e Canadá, gesto que amplia a sensação de cerco e sinaliza um isolamento autoinduzido, enquanto a curva de overdoses segue pressionando famílias e cidades inteiras.

No front ambiental, a cena é de ficção científica gore, javalis com carne azul brilhante surgem na Califórnia, efeito colateral de raticidas tingidos de azul que escorrem pela cadeia alimentar e chegam ao prato do caçador desavisado. É a cor da negligência, um alerta sobre química agrícola descontrolada, fiscalização frouxa e um modelo de produção que transforma veneno em paisagem.

O subterrâneo também fala por meio de pulgas e roedores, a peste reaparece em território estadunidense, tratável, mas simbólica, porque expõe um país que desaprendeu ciência, prevenção e cuidado contínuo. As autoridades reconhecem que a doença persiste em reservatórios de roedores e que os Estados Unidos ainda registram casos todos os anos. A lição é direta: sem vigilância de base e serviço público forte, até fantasmas medievais encontram brecha para circular.

A cultura pop já havia dado o recado em Breaking Bad: a metanfetamina azul virou assinatura visual de uma economia do desespero, um professor sem cobertura de saúde, uma família sem rede de proteção, um país que empurra seus doentes para o mercado da dor. Na série a droga é azul, no campo a carne virou azul, dos dois lados um sistema que tinge a realidade com a química da precariedade. Nos bastidores da produção, o “cristal azul” era doce colorido, mas o símbolo pegou porque dialoga com a materialidade da crise, dependência disseminada, laboratórios clandestinos e uma cadeia industrial que abastece o vício com precisão logística.

Assim, a fotografia geral se compõe sem esforço, opioides que devastam bairros, carne fluorescente que acusa o veneno no campo, pulgas que carregam bactérias ancestrais, tarifas que multiplicam atritos com aliados e parceiros. A retórica de potência tenta encobrir o barulho, mas o ruído vem do chão, dos hospitais lotados, das morgues e das prateleiras de isca azul. Quando a política externa vira extensão da guerra contra o próprio espelho, o resultado é um país mais só, cercado pelas consequências de suas escolhas, péssimas escolhas. A decadência tem a cor laranja das prisões superlotadas, dos uniformes que marcam a exclusão social, da violência institucionalizada contra imigrantes, a cor que estampa o rosto de Donald Trump. É nessa tonalidade que o império revela sua falência, não como exceção, mas como regra.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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Sara Goes

Sara Goes é jornalista e âncora da TV 247 e TV Atitude Popular. Nordestina antes de brasileira, mãe e militante, escreve ensaios que misturam experiência íntima e crítica social, sempre com atenção às formas de captura emocional e guerra informacional. Atua também em projetos de comunicação popular, soberania digital e formação política. Editora do site codigoaberto.net