20.11.07


FANTASIA

Uma história comum, mas de difícil aceitação, uns poucos convivem com essa carga. Os valores éticos sociais, como principio, transitando lado a lado com os limites da moral individual, entre um casal que vivia muito bem, como dizem os de fora, felizes. Amélia não tinha queixas. Bernardão um bom marido. Cumpridor dos deveres de um patriarca moderno, e na cama não tinha igual. Noventa minutos na preliminar e mais noventa na hora do jogo propriamente dito. No currículo, só topo de pódio, e com a ferramenta de macho, nunca perdeu um único concurso. Ele é famoso.

De repente, a fartura acabou, e sobra o ditado popular: “Em casa que falta pão, todo mundo grita, mas ninguém tem razão”. O agora Bernardinho perdeu a inspiração, aquele ímpeto erótico foi racionado, escasseou e começam as primeiras falhadas:
─ Isso nunca me aconteceu antes... É a primeira vez, disse ele.
Quando o expediente terminava, ele já não tinha mais pressa de voltar para casa. Só vergonha, se sentia um fracassado.

A mulher não é lá essas coisas, mas não é de se jogar fora, padrão para uso caseiro. E como sempre, nessas situações, a esposa, se sente vítima de um complexo: “será que sou desqualificada para o bom gosto, e o apetite sexual do meu parceiro”?
O primeiro pensamento é a dúvida, muitas vezes se acha feia, ridícula e imprópria para “uso” do outro etc.
Sai pelos cantos perguntando para o primeiro que encontra:
─ Você me acha atraente?

Nessa situação liga para a irmã mais velha e relata o fato. Esta por sua vez recomenda prudência:
─ Pode ser apenas uma crise existencial. Logo passa, mas prepare todos os dias de manhã uma gemada com Caracu, isso pode fazer a diferença.
─ Eu fiz um refresco de catuaba com três Viagra’s diluídos, ele quase pega fogo, mas nem assim funcionou.
─ É melhor você falar com ele, pergunte qual é o problema.

A boa mulher, companheira inigualável, acredita que a verdadeira felicidade não está neste mundo. Para alcançar a vida celestial, o sacrifício é necessário. Sexta-feira vai ao terreiro de Umbanda, sábado a noite na igreja da Matriz e no domingo, no culto das 20h.
Tomada de coragem, compreensiva Amélia falando ao companheiro quis saber:
─ O que está acontecendo? Vamos conversar, assim podemos tentar resolver esse problema. É alguma coisa comigo, com o teu chefe na indústria de conservas? Você foi rebaixado, está numa nova função, não recebeu aumento de salário, atrasou o pagamento?

─ Antes fosse uma dessas as causas dos meus problemas. Quero confessar a você Amélia, e não sei como, mas estou possuído por uma terrível compulsão: Uma vontade incontrolável de colocar o pênis na cortadora de pepinos.

Espantada, a esposa sugeriu que ele procurasse um psicólogo, mas Bernardo resistindo, prometeu que iria pensar no assunto. Enrolou, enrolou até que a esposa, vendo que estava tudo perdido, perdeu a paciência e concordou: ─ Coloca logo esse negócio na cortadora de pepinos. O problema é seu. Resolva-se!

─ Ao telefone, mana você não imagina! Sabe o que ele quer fazer?
─ O quê?
─ Cortar o pinto!
─ Ai! Querida, ele deve estar muito doente. Uma amiga me contou que o marido teve um distúrbio bipolar. Na cama ele ria e chorava ao mesmo tempo. Demorou seis meses nessa palhaçada, mas sarou, voltou ao normal depois que ela falou para ele que iria arrumar outro homem. Homem que é homem, não ri e não chora, principalmente, na cama.
─ A vizinha aqui ao lado, me falou que pode ser mania infantil, por o pênis na cortadora de pepinos é coisa de criancinha que não sabe o que fazer com aquilo. Pode ser que seja a tal síndrome de Peter Pan. Vou desligar, ele está chegando.

Esgotado, deixou o corpo cair no sofá. O abajur de faiança explode no chão. A mulher aparece na sala espantada. Ao ver o marido prostrado, joga-se a seus pés, nervosamente solta o cinto, abaixa a calça e a cueca, aliviada vê aquilo que todas as mulheres mais gostam nos homens.
Estava intacto e exclama: ─ Deus seja louvado.

Ainda no sofá, cabisbaixo, profundamente abatido Amélia quis saber, enfim, o que acontecera, perguntou:
─ O que aconteceu querido?
─ Lembra-se da minha compulsão de enfiar o pênis na cortadora de pepinos?
─ Mas você não fez isso!
─ Sim eu fiz!
─ E o que aconteceu?
─ Fui despedido.
─ E a cortadora de pepinos? Machucou-te?
─ Não, ela também foi despedida.

Ventura Picasso – Conto: “Fantasia” intertextualidade de Piada da internet.
Ata. 8/11/2007
3629

OFICINA DE CONTOS - Rita de Cássia Zuim Lavoyer

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