sab, 12/04/2014 - 11:26 - Atualizado em 12/04/2014 - 12:55 - http://jornalggn.com.br/noticia/a-hipocrisia-das-cpis-e-do-uso-politico-dos-escandalos
Provavelmente nenhuma das CPIs
(Comissão Parlamentar de Inquérito) anunciadas levará a nada, por uma singela
razão: todas elas entram no coração do modelo de financiamento privado de
campanha do país, o mesmo que elegeu a maioria dos parlamentares e
governadores.
Os personagens são os mesmos que
fornecem para a Petrobras, para o Metrô de São Paulo, para a Cemig de Minas,
para o porto de Suape, em Pernambuco.
A CPI de Cachoeira acabou quando
bateu nas relações Veja-Cachoeira e quando o diretor da
empreiteira Delta ameaçou abrir suas listas. Em dois segundos, a CPI virou
fumaça, abortada tanto pela oposição quanto pelo PT.
A CPI do Banestado teve o mesmo
destino quando encontrou contas externas de grupos relevantes. A dos
Precatórios terminou em pizza, pois envolvia quase todos os partidos. E só
avançou parcialmente pelo desejo de alguns integrantes em atingir adversários
políticos.
Agora mesmo, se o doleiro Alberto
Yousseff abrir suas contas e soltar sua língua, não sobra um partido inteiro no
país. Daqui a pouco estará livre, leve e solto como Carlinhos Cachoeira, o
bicheiro que, em parceria com Veja, ameaçou a República e
transformou uma figura apagada – o ex-senador Demóstenes Torres – no catão mais
temido do país.
***
Esse modelo torto criou uma cadeia
improdutiva da denúncia que visa tudo, beneficia a muitos, menos à moralidade
pública. É de uma hipocrisia acachapante e oportunista.
Grandes grupos jornalísticos ou o
jornalismo de Internet têm à sua disposição escândalos a granel,
verdadeiros ou falsos, que são escolhidos como em gôndolas de supermercados.
Quer atingir alguém, um grupo político adversário, uma empresa recalcitrante?
Vá até a gôndola e escolha o que quiser. Se não houver grandes escândalos,
basta dar um tratamento escandaloso a um pequeno problema e imediatamente se
abaterá sobre a empresa ou o político a mancha da suspeita.
Confira-se o que foi o aumento das
verbas publicitárias da Serasa, quando alvo de uma CPI.
Basta um relatório inconclusivo de
Tribunal de Contas, uma manchete de jornal, um procurador pautado pela mídia
para atingir o mais probo dos políticos ou administradores. Ou dobrar a mais
recalcitrantes das empresas. É um poder sem limites.
Por aqui, uma revista é desmascarada
em jogadas políticas e comerciais com uma organização criminosa e nada ocorre.
O Congresso se apequena, o Ministério Público tergiversa, o Ministério da
Justiça se cala. O STF acaba com o direito de resposta, o CNJ (Conselho
Nacional de Justiça) monta um grupo para garantir a total liberdade dos grupos
de mídia. E esquece-se das vítimas porque as vítimas, ah, deixe por conta da
defensoria pública.
Na Inglaterra, por muito menos,
conservadores, liberais e trabalhistas, polícia e Judiciário se uniram para
colocar no pelourinho o mais poderoso magnata da mídia da atualidade, Rupert
Murdock.
Resistir, quem há de? É uma mixórdia
que beneficia os picaretas, por ficarem na companhia de inocentes; e
estigmatiza para toda a vida os sérios.
***
Qualquer fato – verdadeiro ou falso –
é empunhado contra o adversário político ou contra a empresa não colaborativa.
E tudo é aceito porque o modelo político atual torna verossímil toda sorte de
malfeitos - que existem às pencas sim. Mas pouco atingem os grandes grupos que
se blindam com escritórios de advocacia caros e controles sobre verbas
publicitárias robustas.
O que explicaria, por exemplo, os R$
2 milhões gastos pelo Ministério da Educação com assinaturas da revista Nova
Escola da Editora Abril? Meramente méritos da revista ou barganhas políticas em
torno de reportagens? E qual a reportagem que deixou de ser publicada?
Daí a dificuldade de uma reforma
política, com o fim do financiamento privado de campanha, que rompa com esse
anacronismo. Ou de mudanças na legislação que permitam a punição severa ao
crime grave mas a não criminalização de qualquer erro administrativo.
Aos atuais parlamentares não
interessa o fim do financiamento privado de campanha, porque a maior parte
deles depende desse modelo para sua sobrevivência política. Aos grupos de mídia
e aos Tribunais de Conta não interessa uma racionalização dos procedimentos,
pois reduziria sua capacidade de gerar escândalos.
***
E todo esse jogo de cena se dá em
cima do manto cinzento das negociações espúrias.
Ventura Picasso
1 comentários:
Verdade...se escolhe escândalos como se escolhe tomate. É tanta pouca vergonha que não se sabe quem tem vergonha mais nesse país. E olha que política é coisa séria. Imagina se nao fosse
Postar um comentário